domingo, 31 de janeiro de 2021

"Veterano" da Força Expedicionára Brasileira

Crônica publicada no Correio da Manhã, assinado apenas como “Veterano”, de janeiro de 1945. Esta publicação visa abranger o entendimento sobre questões que ainda geram dúvida em muitos brasileiros sobre o papel do soldado da FEB na Campanha da Itália. Não por acaso, a concepção errônea sobre o valor do nosso soldado na campanha da Itália se encerra quando o brasileiro é apontado com um especialista em patrulhas, mesmo depois das fracassadas investidas em Castelo, em novembro e dezembro de 1944. A contrário do que se possa imaginar, para uma soldado nascido e criado nos trópicos, muitos, inclusive, oriundos dos escaldantes sertões nordestino, combateram com destemor com pequenas frações sob temperaturas que chegavam a 20 graus abaixo de zero em algumas regiões no norte da Itália. O soldado brasileiro esteve na vanguarda do setor do Quinto Exército em toda a campanha da Itália, desde que chegou ao Teatro de Operações. Como diz o artigo abaixo: “O Soldado Brasileiro é lutador e Bravo na sua aparente frouxidão…”
Em uniforme de inverno, no mês de dezembro de 1944, patrulha da FEB se prepara para incursão às linhas alemãs
O Infante Brasileiro na Campanha de Inverno
Vi a primeira nevada cair na noite de Natal e logo pensei nos soldados. Pensei em todos, mas principalmente no infante. O infante do Brasil! Muitos se têm admirado dele. Eu confesso que não me surpreendeu. O infante do Brasil das campanhas platinas e dos chacos do Paraguai era exatamente como é o infante que combate na Itália. O valor deste infante está imortalizado na História Militar do Brasil. O valor dele nós conhecemos de sobra no país, sempre que é chamado a lutar. Não foi aqui na Itália que ele se revelou. O brasileiro é o homem que ninguém dá nada por ele; ele mesmo não se dá muito valor. O brasileiro é assim – por natureza – lutador e bravo na sua aparente frouxidão. Saiu do Brasil com os ouvidos cheios. O Alemão é o primeiro soldado do mundo. Viu o alemão pela frente e topou. Viu a neve e topou. Topou de cara. Topa tudo! Defendendo-se do frio – 17 graus negativos – lançando mão de todos os recursos de sua imaginação. Perfeitamente equipado para a campanha de inverno, então fica um número. Com uma bota de “pé de pato” e, na cabeça um gorro astrakan, visto no reflexo da neve, parece até um explorador polar. A guerra não para porque as planícies e as montanhas e os rios se transformam em gelo. Há máquinas gigantescas para desimpedir os caminhos. A engenharia trabalha dia e noite sob tempestades de neve para que o infante possa passar. o seu irmão artilheiro está atento, para ajudar e apoiar. a guerra não pára,  não pode parar por causa do frio. O alemão está lá em cima. Domina as estradas, impede a passagem – precisa ser desalojado – e será desalojado. . Mais cedo ou mais tarde terá ceder. O General Mascarenhas de Morais acaba de consagrar um louvor especial à infantaria em uma ordem do dia. “A arma”, diz ele, “do sacrifício, a arma em que a têmpera do guerreiro é posta à prova a todo momento, a arma que não admite no seu meio os tíbios, os desalentados, os incrédulo, a arma que exige a manifestação viril da nossa raça por uma causa que é a reabilitação do mundo escravizado”
Acrescenta o comandante da FEB: “sei que a brava gente de infantaria tem um chefe experimentado em ações de combate – General Zenóbio da Costa – cujo o lema é “para frente, custe o que custar!” Acompanhei as ações da Infantaria primeiramente no Vale do Serchio, e por último no seu atual setor , lançando-se impetuosamente, em condições desfavoráveis, num terreno hostil, contra alemães poderosamente defendidos e mascarados, no Monte Castelo. Claro que a FEB desempenha uma parte do esforço do Quinto Exército, e até agora nunca deixou de cumprir, dentro das possibilidades, as missões que lhe foram designadas. não tenho dúvida de que a Infantaria de SAMPAIO irá para a frente, custe o que custas!”.
Blog Francisco Miranda

domingo, 24 de janeiro de 2021

Bússola de pulso Segunda Guerra.

Bússola de pulso da marca TAYLOR americana com caixa em baquelite muito usada pelos paraquedista americanos na Segunda Guerra Mundial. Está marca de bussola foi entregue a FEB.

(acervo O Resgate)



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domingo, 17 de janeiro de 2021

Uma rendição sem igual

Esquadrão criado para ir à Segunda Guerra revive histórias do conflito


RIO - Na virada de 29 para 30 de abril de 1945, cerca de 200 brasileiros em 13 carros blindados forçaram a rendição de 14.779 homens de três divisões alemãs (148, Panzer e Bersaglieri) na região de Collecchio e Fornovo di Taro, no Norte da Itália, durante a campanha da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Após se deparar com o imenso efetivo alemão, o então capitão Plinio Pitaluga solicitou o apoio do Comando da FEB, que enviou o 6º Regimento de Infantaria para auxiliar na rendição.
A história é pouco conhecida, provavelmente porque, como uma divisão não se rende à outra, quem recebeu a rendição foi o 4° Corpo do Exército Americano, mas a manobra foi iniciada pelo 1° Esquadrão de Reconhecimento, unidade formada em 1943 para ir à Segunda Guerra. Com o fim do conflito, a unidade passou a se chamar Esquadrão Tenente Amaro, em homenagem ao tenente Amaro Felicíssimo da Silveira, morto em combate durante uma patrulha antes do ataque a Monte Castelo. Na semana que vem, o esquadrão que desde 1974 funciona em Valença, no Sul Fluminense, completa 70 anos de criação.
- Como unidade, o esquadrão era pequeno, pouco expressivo na FEB, mas teve essa participação importante e é citado em livros americanos como uma pequena unidade que derrotou uma grande. Os alemães acharam que os blindados eram a ponta de lança de uma unidade maior e se renderam - conta o pesquisador de assuntos militares, Expedito Carlos Stephani Bastos, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Com uma participação modesta, com cerca de 25 mil homens, muitos militares da reserva, muitos não militares, e mais de 70 mulheres enfermeiras, a FEB capturou ao todo 20.573 homens numa campanha que durou exatos 239 dias, em temperaturas baixas, sem roupas adequadas, experimentando comidas diferentes e, segundo contam os historiadores, se adaptando bem.
- Teve gente que aprendeu a dirigir os carros em uma semana, as armas eram diferentes e até o uniforme que os brasileiros usaram foi dado lá. Mas a única coisa que os assustou foi a divisão entre negros e brancos no exército americano.
De herança do conflito, Expedito aponta todo o sistema de carros blindados existente hoje. Antes da Segunda Guerra, o Brasil tinha como base uma escola francesa de guerra, com veículos de quatro rodas e sobre esteiras, por exemplo. Depois do contato com os americanos, surgiu o conceito de blindados de seis rodas usado até hoje.
- O projeto do Guarani (que substituiu o Urutu nas Forças Armadas este ano) é quase um desdobramento do que houve lá - explica o pesquisador.
Correspondência solidária
Responsável por reunir documentos e montar o Museu Militar Capitão Pitaluga, inaugurado em 2002 em Valença, o tenente Gerson Ribeiro Romano, que esteve à frente do museu de 1999 a 2010, conta que todo o reconhecimento de estradas por onde a FEB passava era feito pelos 13 blindados do esquadrão, com apoio ou sozinhos. No caso da grande rendição, sozinhos.
- Primeiro vai a cavalaria, depois chega a infantaria a pé ou de caminhão, numa via que já foi reconhecida de carro. Já imaginou se a guerra fosse toda feita pé, como a Primeira? - questiona. - Essa é a responsabilidade da cavalaria, que nunca recua, ou avança ou atravanca - brinca ele.
Na época em que organizou o museu, Gerson encontrou parte da correspondência enviada aos militares na Itália e conta que, na guerra, saíram da cidade 469 pessoas do Batalhão de Saúde. E voluntárias da cidade iam de casa em casa escrevendo ou lendo cartas dos parentes para os soldados que estavam em combate.
- Os homens do 1° Esquadrão de Reconhecimento se prepararam e se sacrificaram para serem empregados fora do país, longe da família, sem telefone e com contato somente por carta, no maior conflito mundial já existente, em defesa do nosso Brasil e lutando contra a expansão do nazismo e do fascismo - analisa o atual comandante do Esquadrão de Cavalaria Leve Tenente Amaro, major Camilo Pereira Antunes.
A criação da FEB e a ida dos brasileiros para a Itália colaboraram para a desaceleração do Estado Novo de Getúlio Vargas e reforçaram a luta pela democracia, segundo a historiadora Dulce Pandolfi, do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV).
- Havia uma pressão no Brasil, questionava-se como nossos soldados estavam indo lutar pela democracia se não havia democracia internamente. Nesse momento Getúlio tinha perdido os aliados, porque havia vários liberais que o apoiaram contra a República Velha em 1930 (quando ainda não se tinha ideia do estado autoritário que viria depois), mas de quem ele foi se livrando depois, foram todos perseguidos ou presos - observa ela.
Projeto se voltou contra Getúlio
Depois da Revolução de 1930, no movimento de construção da nação, fazia todo sentido fortalecer e equipar as Forças Armadas, os temas defesa e segurança nacional estavam em alta e enviar os militares à guerra fazia parte desse projeto.
- O governo de Vargas tentava tirar partido da “neutralidade”, mantendo uma equidistância pragmática da Alemanha e dos Estados Unidos, com um certo namoro com o nazifascismo. Mas depois que os submarinos alemães atacaram navios mercantis brasileiros, em 1942, a pressão aumentou para que entrássemos na guerra ao lado dos Aliados. E entramos. No fim o projeto de Getúlio acabou se virando contra ele - analisa a historiadora.
Se na época a FEB adotou como lema “A cobra está fumando” em alusão ao que se dizia, de ser mais fácil uma cobra fumar cachimbo do que o Brasil participar da guerra na Europa, hoje os militares relembram o feito com a saudação “A cobra está sempre a fumar”.

VIVIANE NOGUEIRA
O GLOBO CIÊNCIA (HISTÓRIA)

domingo, 10 de janeiro de 2021

Telefone de campo americano/FEB.

 Telefone de campo (EE8-B Field Phone) usado pela F.E.B.Os telefones de campo foram utilizados pela primeira vez na Primeira Guerra Mundial.Eles substituíram sinais de bandeiras e o telégrafo como um meio eficiente de comunicação. O Telefone de Campo ( EE8-B Field Phone) foi usado pelo Estados Unidos antes e durante toda a Segunda Guerra Mundial e através da guerra do Vietnã. Ele foi alojado primeiramente em couro, em seguida lona grossa e sua última produção nylon. Telefones de campo são telefones móveis destinados a uso militar, projetado para resistir as condições de guerra.Eles podem extrair energia a partir de sua própria bateria ou a partir de uma central telefônica. O EE-8 Telefone de Campo foi padronizado em 1932 e aquisição começou em 1937, proporcionando uma unidade mais leve e funcional a tempo da grande mobilização dos militares dos EUA para a Segunda Guerra Mundial. Entre outras melhorias, o EE-8 aumentou a faixa máxima de transmissão do predecessor EE-5 por seis milhas ou mais. Telefone de Campo foi usado pela Força Expedicionária Brasileira na Itália durante a Segunda Guerra Mundial.Os telefones portáteis era uma forma mais eficaz e eficiente para os comandantes e as tropas para manter contato no campo de batalha.Esse da foto é de lona grossa revestida por um produto para impermeabilizar, de fabricação de1944 .(acervo O Resgate FEB)




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domingo, 3 de janeiro de 2021

‘O alto-falante anunciou: Attention. The war is over’

Eu estava em Natal fazendo a revisão de um P-40 (avião) quando abriu o voluntariado para o 1.º Grupo de Aviação de Caça. Dei meu nome. No dia seguinte, quando voltei para minha base em Salvador, meu comandante me disse: "Você fez besteira, rapaz. Vai para um lugar onde os caras já estão treinados. Vai ser como tiro ao pombo". E eu respondi: "Mas eu não estou pensando nisso, eu estou pensando nos navios que foram afundados". Em poucos dias, os alemães mataram centenas no litoral do Nordeste. Fomos treinados no Panamá e, depois, nos Estados Unidos. Só então embarcamos para a Itália.No primeiro mês de combate, perdemos quatro pilotos. Fiz meu primeiro voo em 6 de novembro de 1944. Quando voltei da missão, fui entrevistado pela BBC. Foi quando chegou a confirmação da morte do Cordeiro (John Richardson Cordeiro e Silva), o primeiro piloto que morreu. Ele foi atacar Bolonha, a estação de estrada de ferro, que era muito protegida. Pegou um tiro. Eu vinha voando e ouvindo a conversa dele com o americano: ‘Meu avião foi atingido e tá pegando fogo. Tô perdendo altura e potência. Estou com rumo sul". Ele estava a 17 km de Bolonha quando o avião bateu em um morro e explodiu. Ele morreu.
Minha mulher não gosta que eu fale, mas eu fiquei muito mal quando atirei pela primeira vez. As primeiras pessoas que eu destruí, a vida delas me custou muito caro. Os colegas me diziam: "Pô, tá medrando, fica chorando, vomitando aí". Porque me causou um mal-estar muito grande quando eu puxei o gatilho e atirei nos caras. Eles estavam correndo, saindo de um jipe para entrar numa casa na campanha e eu atirei neles. Daí em diante, comecei a pensar: ‘Se eu não atirasse, esses estariam atirando e matando os meus’. Essa é crueza da guerra.
Rui Moreira Lima, brigadeiro e piloto 
No dia 2 de maio de 1945, me apresentei para outra missão e, na sala de operações, de repente o alto-falante anunciou: ‘Attention, attention, please. The war is over, the war is over’. Aí foi aquele silêncio maravilhoso e, em seguida, uma gritaria enorme. Abracei até quem não conhecia. O pessoal chorando, emocionado. Confesso que achei muito bonito. Dois momentos bonitos: o dia em que terminou a guerra e o dia em que pousei no Campo dos Afonsos (Rio) e encontrei minha mulher e minha filha. Ela tinha sete meses e eu não a conhecia. Deixei minha mulher grávida e só fui conhecer a menina depois da guerra. 
O ESTADÂO