Minha mulher não gosta que eu fale, mas eu fiquei muito mal quando atirei pela primeira vez. As primeiras pessoas que eu destruí, a vida delas me custou muito caro. Os colegas me diziam: "Pô, tá medrando, fica chorando, vomitando aí". Porque me causou um mal-estar muito grande quando eu puxei o gatilho e atirei nos caras. Eles estavam correndo, saindo de um jipe para entrar numa casa na campanha e eu atirei neles. Daí em diante, comecei a pensar: ‘Se eu não atirasse, esses estariam atirando e matando os meus’. Essa é crueza da guerra.
Rui Moreira Lima, brigadeiro e piloto |
No dia 2 de maio de 1945, me apresentei para outra missão e, na sala de operações, de repente o alto-falante anunciou: ‘Attention, attention, please. The war is over, the war is over’. Aí foi aquele silêncio maravilhoso e, em seguida, uma gritaria enorme. Abracei até quem não conhecia. O pessoal chorando, emocionado. Confesso que achei muito bonito. Dois momentos bonitos: o dia em que terminou a guerra e o dia em que pousei no Campo dos Afonsos (Rio) e encontrei minha mulher e minha filha. Ela tinha sete meses e eu não a conhecia. Deixei minha mulher grávida e só fui conhecer a menina depois da guerra.
O ESTADÂO
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