"As circunstâncias da guerra colocaram as preocupações com o futebol em segundo plano na América do Sul. A participação, ainda que indireta, dos países do continente no conflito que se desenvolvia do outro lado do Atlântico levou a Conmebol a suspender as competições anuais. Com isso, ao longo de 1943 e 1944 tanto argentinos como brasileiros somente puderam desfrutar do futebol no âmbito local, com seus respectivos campeonatos regionais. Na verdade, a Seleção Brasileira chegou a disputar duas partidas amistosas em 1944, ambas contra o Uruguai, no Rio de Janeiro. A CBD (Confederação Brasileira de Deporto) resolvera homenagear a Força Expedicionária Brasileira, que iria combater na Itália, e que teria em suas fileiras os jogadores Perácio do Flamengo, Bidon, do Madureira, China do Figueirense, de Florianópolis, Juvêncio, do Força e Luz de Porto Alegre e os atletas do Botafogo Geninho, Valter, Mato Grosso e Dunga. Foram duas vitórias brasileiras (6 a 1 e 4 a 0), sendo que o segundo jogo foi marcado por muita violência em campo".(Luiz)
Guerra e futebol
A guerra bateu no esporte brasileiro com uma vara controladora e disciplinadora. Aqueles clubes efusivamente criados nas décadas anteriores por imigrantes e seus descendentes, dentro de estruturas elitistas ou operárias e que mantinham um caráter fortemente étnico, foram atingidos de várias maneiras em todo o território nacional.
A desconfiança dos governantes nacionais com os novos cidadãos, em sua maioria, imigrantes italianos e alemães e seus descendentes, levou a uma ação de controle do Estado em várias esferas, e a esportiva não ficaria de fora disso. Assim, a partir de 1941, especialmente após a entrada do Brasil na Guerra, o Conselho Nacional de Desportos (CND) baixou uma série de regulamentações para o esporte, afinando-o a um projeto nacionalista do regime do Estado Novo (1937-1945).
Assim sendo, os clubes de futebol foram obrigados a expulsar dirigentes e associados estrangeiros, principalmente os ligados aos países do Eixo, ou seja, Japão, Itália e Alemanha.
Alguns casos clássicos da história futebolística brasileira atingida pela política do Estado Novo foram o Palestra Itália em São Paulo (Palmeiras) e Belo Horizonte (Cruzeiro), o próprio Corinthians Paulista, alguns clubes no Paraná (Novo Hamburgo).
Uma ‘Copa’ durante a Guerra
O historiador Luciano Dias Pires relembra que, em 1939, ainda durante a Segunda Grande Guerra, a imprensa brasileira noticiava que a Fifa iria enviar ao Brasil uma comitiva para avaliar as possibilidades do país sediar a Copa programada para 1942, pois acreditava-se que o conflito mundial não se estenderia como ocorreu até 1945. A entidade máxima do futebol suspendeu a visita ao Brasil e, como se sabe, o mundo ficou sem os Mundiais de 1942 e 1946.
No início de 1945, os exércitos dos Aliados dispersavam o que restou das forças militares do ditador alemão Adolf Hitler. Os generais norte-americanos, ingleses, russos, franceses e de outros exércitos, para o entreterimento dos soldados, resolveram realizar uma pequena “Copa do Mundo”, formando selecionados com os soldados de diferentes exércitos.
Pires explica que o torneio foi vencido pelo 5º Exército Americano reforçado por quatros militares brasileiros, integrantes da Força Expedicionária Brasileira (FEB) e jogadores profissionais no Brasil. O lateral do São Cristóvão, Bidon, o meia Perácio, da Seleção Brasileira de 1938, o ponta esquerda do Corinthians, Walter e um goleiro que ficou na reserva (seu nome é desconhecido). Assim, em plena Segunda Grande Guerra, uma espécie de Copa do Mundo aconteceu e quatro soldados brasileiros colaboraram pela conquista do título.
A F.E.B e o 5º exercito americanos juntos no Futebol
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A seleção do 5º Exercito americano com jogadores FEB na Itália. |
"Este foi o que mais me chamou a atenção. Na fase final do combate, entre o fim de 1944 e o início de 1945, quando a guerra estava praticamente definida e já não havia tantas batalhas com as quais se preocupar, os comandos dos exércitos Aliados (Estados Unidos, Reino Unido e União Soviética), que lutavam contra a Alemanha nazista, se juntaram para bater bola, organizando um campeonato entre os países do grupo. A Força Expedicionária Brasileira (FEB), integrante do 5º Exército Americano, não ficou de fora, cedendo soldados jogadores ao time.
Destacou-se o lateral Bidon, que tinha sido titular do São Cristóvão, time carioca da Primeira Divisão, que disputava na época o título com os grandes Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo. Foi também convocado o meia-esquerda Perácio, um dos maiores ídolos da história do Botafogo (RJ), que havia sido titular da Seleção Brasileira na Copa de 1938, na França. Walter, ponta-esquerda da categoria de base do Corinthians, também teve a chance de participar do campeonato. Há registros de que o goleiro reserva do time também tinha sangue brasileiro. O time do 5ª Exército Americano reforçado foi o campeão."(Marcelo Duarte)
JOGO HISTÓRICO – FORÇA EXPEDIONÁRIA BRASILEIRA X COMANDO BRITÂNICO
Após o término da Segunda Guerra Mundial, foi organizada uma partida amistosa entre o Força Expedicionária Brasileira e uma equipe formada pelo Comando Britânico da cidade de Florença. O grande nome da partida foi Bidon, antigo defensor do Madureira.
Dados desta partida:
FORÇA EXPEDIONÁRIA BRASILEIRA 6 a 2 COMANDO BRITÃNICO
Data: 01 de abril de 1945
Local: Florença – Itália
Gols: Bidon (4), Perácio, Valter Guimarães / Williams (2)
Força Expedicionária Brasileira: Bráulio de Almeida; Emertio e Dunga; Labatut, Juvencio e Angelo Pesqueira; Valter Guimarães, Geninho, Bidon, Perácio e Walter Fazzoni.
Comando Britânico: não disponível
O Escrete da FEB
"Pelo menos estava bem acompanhado, num navio recheado de craques" – Léo Christiano.
E com tantas feras reunidas, lógico, rolou pelada! Eram vários profissionais, o meia Geninho e o zagueiro Walter Fazzoni, ambos do Botafogo, o goleiro Bráulio, do Atlético (MG), Bidon, centroavante do Madureira, Careca do Fluminense, e Alvanilo, da Ponte Preta, além dos amadores Dunga e Mato Grosso, do Botafogo, Labatut, do Olaria, Juvencio, do Cocotá, Walter, do Ideal, Timbira, do Bonsucesso, Pasquera, do Parque da Mooca, D´Avila e Soares. Juntos, formaram o imbatível time da Quinta Artilharia, sempre mesclado com um francês e quatro americanos, do exército aliado. Juntos, participaram de várias peladas e do Campeonato do Mediterrâneo. Esses jogos tinham grande destaque no jornal
E a penúltima edição do Cruzeiro do Sul foi histórica! Além de noticiar as mortes de Adolf Hitler e Benito Mussolini, também destacou o jogo de Perácio & Cia contra o combinado inglês, RAF (Real Força Aérea) e Marinha. O primeiro tempo terminou 1 x 1, gol de Geninho, mas no segundo Perácio guardou dois e Bidon e Walter fecharam o placar em 5 x 3. Perácio não pode comemorar no Café Nice e na Assirio, como fazia após os títulos do Mengão.
Esse jogo foi praticamente uma comemoração pelo fim da guerra.
Pesquisa:
blog do curioso (Marcelo Duarte)
O Futebol e a Segunda Guerra Mundial(Luciano Dias Pires)
Blog do Rodrigo, .com (O esporte catarinense em destaque)
O Globo - A Pelada como ela é.
Jornal A Tribuna de Santos/SP
site do Sport Club Novo Hamburgo (Paraná)
Matéria :O Resgate FEB