Essa é o relato narrado abaixo é uma triste e emocionante historia do veterano da Força Expedicionária Brasileira Fernando Leopoldo dos Santos Miranda, natural de Recife-PE. Após a guerra recebeu as medalhas de Sangue do Brasil por ferimento em combate e a medalha de campanha.
Pracinhas em recuperação em um hospital americano |
"Doze de dezembro de 1944, esta foi a data do meu primeiro e único
combate.Naquele dia recebi o batismo de fogo, em Monte Castelo:
estávamos dormindo em uma estrebaria, recebemos ordem e partimos de
madrugada, com o Batalhão, para o ataque. Não consigo me lembrar do nome
do meu sargento comandante do grupo de combate. O alemão lá de cima do
morro e a gente cá em baixo. O primeiro tiro me pegou, senti uma frieza
quando a bala bateu em mim – não sabia se de metralhadora, mas foram
quatro ferimentos: um em cada perna, um na mão e outro no lado
esquerdo,na costela. Fiquei estendido na neve e penso que, por isso,
escapei de morrer; o gelo estancou o meu sangue. Olhei para o relógio,
eram oito horas e trinta minutos da manhã e eu continuava caído sobre a
neve. Havia sangrado mas sem sentir dor. Ao ser ferido, permanecendo
inerte daquele jeito, imaginei que os alemães iriam me matar. Muitos
feridos morreram porque reagiram à aproximação dos alemães.
Eles pertenciam a um grupo de combate inimigo, mas deles não tenho
nenhuma queixa. Ao clarear o dia, os alemães desceram para apanhar os
feridos (éramos quatro brasileiros, os outros três eram soldados),
colocaram-nos em padiolas e nos levaram para um hospital italiano. Fomos
muito bem tratados pelos enfermeiros alemães; mesmo sem entender nada
do que eles falavam – eu não perdi a consciência em momento algum –, me
lembro até que, quando estava na padiola, puseram em cima de mim o
apetrecho que a gente levava para as refeições e nos levaram direto para
o hospital.
Na sala do hospital havia mais seis feridos; as enfermeiras vinham e
nos tratavam muito bem; levavam-nos para urinar e defecar. Lá no
hospital italiano, lembro-me que tanto os alemães como os italianos
mandavam alimentação e cigarros que os americanos jogavam de pára-quedas
no campo. Recolhiam e entregavam à gente. Passamos pouco tempo no
hospital e depois fomos transferidos para um campo de concentração de
prisioneiros na Áustria – não era daqueles campos de concentração para
judeus –, onde permanecemos cerca de quatro meses; naquela altura eu já
conseguia andar com o auxílio de uma muleta ou com a ajuda de alguém me
apoiando.
Na minha sala havia quatro prisioneiros, mas o campo era grande.
Recebíamos atendimento de médicos alemães ou italianos, havia
enfermeiras à noite, não existiam medicamentos mas elas sempre mudavam
os curativos da gente.
Quando terminou a guerra, fui libertado pelos ingleses; eles desceram
de pára-quedas e nos levaram para Livorno, de avião, juntamente com os
feridos alemães. De lá fomos transferidos para Casablanca, onde passamos
uns dois dias, e finalmente para os Estados Unidos, em Baltimore, onde
me demorei por mais uns quatros meses.
Lá havia mais feridos brasileiros, em tratamento, que tinham chegado
antes de mim; depois fomos todos para Nova Orleans, onde existia um
hospital muito grande. Ali, por cerca de seis meses, fiquei aguardando a
minha reforma. Apesar do tratamento, nunca me recuperei dos ferimentos
que recebi. Vim para o Hospital Central do Exército, no Rio, e depois me
apresentei no 14o RI, aqui no Recife, mesmo caminhando com auxílio de
muleta.
Eu era cabo e não tive promoção nenhuma até passar pela Junta de
Saúde e ser reformado no posto de 2º sargento; o General Lott foi quem
me deu o soldo de 1º sargento e agora, sob outra lei, recebo o soldo de
2º tenente.
Nesse benefício entrou todo mundo, soldado, cabo, quem foi para a
guerra e quem não foi e eu não sei que justiça é essa: fui ferido em
combate e ganho a mesma coisa de quem ficou aqui no Brasil!
A minha impressão é a de que há um esquecimento dessas coisas,
principalmente por parte das Forças Armadas. O meu acesso, por exemplo,
ao Serviço de Saúde do Exército é igual ao dos outros, minha família tem
de ir marcar cartão de visita médica no meio de muita gente. A
Associação de Veteranos da FEB não tem me ajudado em nada, só tem havido
preocupação com comemorações e festividades.
O Exército me ensinou uma noção de disciplina muito grande e essa noção eu repassei para os meus filhos."
Fonte: HISTÓRIA ORAL DO EXÉRCITO NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Biblioteca do Exército Editora
After doing some online research, I got my first electronic cigarette kit on VaporFi.
ResponderExcluir