"Nenhum homem será deixado para trás"
Apesar do apelo de familiares, Itamaraty não planeja identificar o corpo do único soldado brasileiro enterrado em monumento na Itália
Sob uma placa de bronze em Pistoia, na Itália, o único combatente do Brasil na Segunda Guerra Mundial ainda enterrado no Memorial do Soldado Brasileiro está à espera de identificação até hoje.Os corpos reconhecidos de 449 pracinhas da FEB (Força Expedicionária Brasileira), mortos na guerra, foram transferidos para o Rio de Janeiro há 50 anos, onde as famílias puderam homenageá-los e deles se despedir.
Desde que foi encontrado, em 1967, 23 anos após o término da guerra, pouco foi feito pelo governo do Brasil para identificar o combatente esquecido.
“O governo nunca fez esforços maiores para com a memória desses guerreiros”, diz a telefonista gaúcha Luciana Chimango, sobrinha-neta do desaparecido cabo Fredolino Chimango.
O último representante da FEB ainda enterrado num cemitério italiano se tornou o “soldado desconhecido”, um símbolo junto ao memorial erguido na cidade toscana, em 1959.
“O soldado desconhecido representa todos os brasileiros que vieram aqui lutar pela paz”, afirma o guardião do memorial mantido pelo Itamaraty, Mário Pereira, filho do ex-combatente que recebeu a missão de zelar pelo cemitério, o sargento Miguel Pereira -morto em 2003.
Ele diz conservar o monumento para que os feitos da FEB não sejam esquecidos.
DESCOBERTA
Em 1944, o Brasil enviou 25.334 soldados à Itália para lutar ao lado dos Aliados -americanos, ingleses, franceses e soviéticos- contra o Eixo, formado por alemães, italianos e japoneses.Ao final da guerra, em 1945, 465 dos combatentes brasileiros tinham morrido e 23 estavam desaparecidos. “Meu pai ajudou a localizar oito desaparecidos, restando apenas 15 e um não identificado”, conta Mário Pereira.
De acordo com ele, o soldado desconhecido só foi encontrado em 10 de maio de 1967, quando um idoso da cidade de Montese compareceu a uma solenidade militar brasileira e disse que sabia onde estava o corpo.
O italiano disse aos militares que, durante uma batalha na cidade de Montese, encontrou um soldado brasileiro morto na mata.
Como passava por dificuldades por causa da guerra, roubou-lhe as botas e o relógio e depois o enterrou com a ajuda do pai, em meio a escombros, naquela cidade.
A ossada encontrada sob um monte de entulho tinha vestígios de fardamento brasileiro, mas não estava com as plaquetas de identificação dos soldados e nem portava documentos.
Uma das teorias na época do descobrimento dos restos mortais era de que se tratava do tio-avô de Luciana Chimango, um dos desaparecidos na área.
O atual guardião do memorial se diz contrário à exumação do corpo.
“Acho que hoje, para a família, a importância de enterrá-lo no Brasil é menor do que a de manter um herói desconhecido representando o país e os colegas na Itália”, diz Mário Pereira.
FONTE: Folha de São Paulo.
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