quarta-feira, 28 de setembro de 2011

ENFERMEIRA FEBIANA - VIRGÍNIA LEITE.

Uma lição de História e coragem

A professora Virgínia Leite se voluntariou para ajudar os pracinhas na Itália durante a Segunda Grande Guerra.

Dona Virgínia no traje de gala de enfermeira da FEB. No hospital em que trabalhou na Itália nenhum, nenhum soldado morreu. As enfermeiras eram tidas como 'milagrosas' e faziam a alegria dos soldados que não viam a família e não ouviam uma voz feminina falar a língua portuguesa há muito tempo.

Aos 92 anos, Dona Virgínia ainda se recorda de alguns fatos vividos naqueles anos de 1944 e 1945. Ela guarda medalhas e souvenirs sobre o assunto, mas chora ao lembrar dos feridos de guerra
A Segunda Guerra Mundial, que começou em 1939 quando a Alemanha atacou a Polônia, sob as ordens de Adolf Hitler, só teve a participação do Brasil depois que submarinos alemães começaram a torpedear embarcações brasileiras no Oceano Atlântico em fevereiro de 1942. Até então, Getúlio Vargas afirmava que "era mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra". Por inúmeros motivos, a concepção do presidente sobre o conflito mudou os brasileiros experimentaram o drama de estarem envolvidos em uma guerra e a população ficou dividida entre os que teriam de viajar para a Itália e aqueles que ficariam esperando seus entes queridos voltarem. A FEB (Força Expedicionária Brasileira), pelo menos, ganhou um lema: 'A cobra vai fumar'.
Em agosto do mesmo ano, o Brasil resolveu romper relações com o país germânico e declarou guerra às nações do Eixo (Japão, Alemanha e Itália), se colocando ao lado dos Aliados sob a liderança dos Estados Unidos.
Entre setembro de 1944 e maio de 1945, mais de 25 mil soldados e oficiais da FEB combateram na Itália. Mas não só eles estiveram presentes. Também foram para aquele país 73 enfermeiras, todas voluntárias, para ajudar a cuidar dos brasileiros feridos em combate. Entre elas estava uma paranaense de Irati, Dona Virgínia Leite. A professora, com então 29 anos, se comoveu com a ida dos 'patrícios' para a frente de batalha, decidiu fazer um curso de enfermagem dado pela Cruz Vermelha e ir para o meio da guerra. Ficou oito meses no país, voltou com depressão e recebeu várias medalhas, até se estabelecer em Curitiba.
Passados mais de 60 anos desde o fim dos combates, Dona Virgínia, hoje com 92 anos, ainda guarda com carinho recordações daquele tempo. Entre fotos e medalhas até sorrisos e lágrimas, ela relembra o tempo em que viu de perto o horror de uma guerra e também a sensação de ajudar seus compatriotas.

Em meio a choro e risadas, dona Virgínia, cujas roupas e utensílios usados durante a Guerra estão expostos em uma sala exclusiva no Museu do Expedicionário de Curitiba, conta um pouco sobre seu trabalho, sua vida e suas impressões na Itália da Segunda Guerra Mundial.
Comunicação: A senhora era professora. Por que resolveu virar enfermeira?
Dona Virgínia: Naquela época não havia televisão, mas a gente escutava notícias no rádio e lia nos jornais o que acontecia na guerra. Com a ida dos pracinhas, eu resolvi ser útil e fazer o bem.
Comunicação: Como sua família reagiu à sua ida à Itália? Apoiaram, tiveram medo, combateram a idéia?
Dona Virgínia: Eles acharam natural, porque eu conversei e expliquei o motivo. Nossos soldados ainda estavam sendo preparados para a Guerra. Naquela época, inclusive as armas que o Brasil usava eram francesas. Chegando lá, a América do Norte tinha todo seu armamento diferente do que era usado na França e conseqüentemente, no Brasil, então o soldado se preparou lá para usar as armas.( Dona Virgínia se referia ao fato de que os soldados brasileiros eram pouco preparados para a Guerra e conseqüentemente era preciso que tivessem ajuda das enfermeiras caso sofressem algum acidente grave).
Comunicação: Como era a rotina no hospital? O que a senhora fazia nas horas vagas? Escrevia, ia à cidade, a alguma festa improvisada?
Dona Virgínia: Nas horas vagas, eu inicialmente não tinha coragem de sair da zona hospitalar porque eu pensava: "Meu Deus, como é que vou me distrair enquanto os soldados, coitadinhos, estão sentindo dores?".
Até que um dia meu chefe de enfermaria soube disso e me falou: "Você sabe que tem colega sua que já voltou, porque não agüentou a guerra, não é? E você está na listagem" – ele disse isso porque, lamentavelmente, nós tivemos casos de colegas enfermeiras que não aguentaram; entraram em depressão e precisaram voltar para o Brasil. E perguntei por qual motivo estava na listagem, afinal, estava trabalhando normalmente e ele disse que eu trabalhava bem, mas não saía, e que todos nós precisávamos ter uma válvula de escape. E eu chorei, para variar. Aí ele disse que estava indo a um clube e me chamou para ir junto.Eu perguntei se dava tempo, porque estava saindo do trabalho e o local era longe. Então tomei um banho rápido, me vesti e fui com ele ao clube. A partir disso, eu comecei a sair. Ele ainda me disse: "Você não pode, de maneira alguma, ficar fechada na zona hospitalar. Isso que você está fazendo é absurdo".
E nessa hora de folga, nós tínhamos que pedir licença, porque não era permitido voltar para o hospital. Os americanos diziam que hora de folga era para ser cumprida, que era necessário ter esse controle,então, eu passei a sair e era o que todos faziam. Além do clube nós tínhamos cinema, teatro, tudo para nos distrair.
Comunicação: E como era a rotina das enfermeiras fora dali, havia racionamento de comida, energia?
Dona Virgínia: O americano usa e abusa do direito de organização. Alimentação, medicamentos e combustíveis para a condução pareciam vir de um vulcão, era uma coisa impressionante. O americano vai para a guerra com toda a regalia de uma família rica, então, em relação a isso, não faltou absolutamente nada.
Comunicação: Como era a relação com as outras enfermeiras brasileiras? Havia enfermeiras estrangeiras também?
Dona Virgínia: Embora tenha vindo do interior, eu nunca tive problemas de relacionamento com elas. Só havia mais duas enfermeiras que não eram de Curitiba, mas vieram para cá quando eram crianças. Inclusive eu já conhecia algumas. Uma delas tinha sido professora em Irati cidade que eu morava.Eu também exercia essa profissão. E o interessante é que eu era professora no grupo escolar Duque de Caxias – patrono do exército!
O Brasil não tinha hospital lá na guerra. Era uma seção hospitalar dentro do hospital americano. Então, naturalmente havia enfermeiras americanas. E uma coisa: para ver nossa falha, entre as americanas já havia tanto as oficiais quanto as praças, mas essas não trabalhavam como enfermeiras. E quando as enfermeiras brasileiras chegaram, ficaram deslocadas porque não eram oficiais nem praças.
O Exército brasileiro não estava realmente preparado. Tanto não estava,  que não havia um número suficiente de enfermeiras para organizar o corpo feminino, principalmente porque poucas enfermeiras tinham escola de alto padrão, que tiveram o curso de enfermagem da Cruz Vermelha. E a Cruz Vermelha, sendo uma organização internacional, que faz tudo o que o mundo precisa, teve esse cuidado de organizar. No Brasil, houve isso em muitos municípios, inclusive Irati, e a parte de escrita acontecia no curso em que eu era professora. Diversos colegas também se inscreveram e, havendo comentários sobre a guerra, todos queriam vir para Curitiba, para fazer estágio. Quando me perguntaram se eu queria vir fazer estágio, aceitei na hora, embora nenhuma outra colega tivesse aceitado.
Comunicação: A senhora ainda tem contato com elas?
Dona Virgínia: Nós mantemos contato até hoje. Se bem que, do Paraná, foram oito enfermeiras e dessas oito, lamentavelmente as outras sete já faleceram. A última que faleceu sofria de asma e tinha ido morar no Rio de Janeiro havia mais de 20 anos. Então, há muitos anos que estou só, aqui em Curitiba. E, bem, eu saí de Irati e fui para a Itália. Voltei de lá para Irati e vim para Curitiba porque estava fazendo tratamento após a guerra - sofri uma queda, tive uma fratura de coluna e fui reformada antes do aproveitamento no Exército das enfermeiras brasileiras. O número de enfermeiras do Brasil era 73. Eram 67 do Exército e seis do primeiro grupo de caça, ou seja, da Aeronáutica.
Comunicação: Como era a relação dos soldados e enfermeiros da FEB com população local? O povo apoiava Mussolini ou se solidarizava com os brasileiros e os Aliados?
Dona Virgínia: O italiano logo percebeu a afinidade e a maneira diferente que havia entre os soldados brasileiros e os outros soldados porque os alemães segundo os italianos contavam, os massacraram. E quando os alemães iam embora, carregavam o que podiam… O que não podiam eles queimavam. Aí os brasileiros chegaram, e brasileiro é um povo com coração aberto…,
mas os italianos tinham muito medo dos soldados negros. Segundo eles, os alemães disseram que os brasileiros negros comiam crianças. Então, quando eles viam soldados negros, ficavam apavorados, mesmo sendo criaturas boníssimas. Quando nos aproximávamos de alguma casa, as crianças sempre pediam chocolate, pão, qualquer coisa que pudessem dar, porque eles sofriam de uma miséria tremenda. No começo elas ficavam com medo quando os negros davam algo, mas depois não. Tanto é que eram recebidos com festa e, quando a guerra terminou, foi algo que nem sei como descrever.
Comunicação: A senhora se alistou voluntariamente ou foi convocada? O que sentiu naquele momento? Quando a senhora chegou à cidade italiana de Nápoles, o que se passou pela sua cabeça?
Dona Virgínia: Todas as enfermeiras foram voluntárias. Eu senti muita ansiedade, mas meu objetivo foi ser útil e fazer algo de bom naquele momento. Uma das coisas que para mim foi muito recompensadora foi quando eu cheguei à Itália. Em um dos primeiros dias de trabalho, quando eu estava saindo da enfermaria, um ferido me chamou, eu voltei para o lado da cama e ele agarrou e beijou minha mão. Eu falei: "O que é isso, criatura?!" e fechei a cara. Ele disse: "a senhora não pode imaginar o que é escutar uma voz feminina de nosso país nos atendendo, porque as americanas são boas, mas elas não nos entendem”. Isso foi o suficiente para que eu me sentisse recompensada pelo trabalho que estava fazendo.
Nós pisamos exatamente em Nápoles, que estava completamente destruída, então eu fiquei apavorada. E acredito que, assim como eu, as outras enfermeiras e os próprios pracinhas devem ter se assustado, mas em nenhum momento eu quis voltar. Eu tinha assumido esse compromisso e tinha que ir até o fim. Porque, embora eu tenha sofrido esse problema, depois caí na realidade, voltei a pisar no chão e foi tudo normal.
Comunicação: A senhora mantinha contato com a família?
Dona Virgínia: O contato era deficiente. Nossas famílias, inclusive, só ficavam sabendo do que estava acontecendo muito tempo depois.
Comunicação: O exército inimigo respeitava a condição dos feridos, e os hospitais?
Dona Virgínia: Há uma lei internacional que diz que o inimigo é proibido de destruir hospitais e barracas de atendimento dos soldados. Naturalmente havia o medo da nossa parte, mas na Europa isso foi respeitado. O que não aconteceu, por exemplo, no Pacífico, porque os japoneses bombardeavam hospitais, navios-hospitais. Às vezes passava um avião e todos ficavam apavorados, mas ele passava por cima do hospital e ia soltar as bombas lá na frente.
Comunicação: Como foi o momento em que a senhora descobriu que a guerra tinha acabado? Como a senhora reagiu?
Dona Virgínia: Nós estávamos no hospital. E lá, por duas vezes, vieram notícias falsas sobre o fim da guerra. Então vinha a notícia, nós ficávamos contentes. Mas de repente não era verdade e nós ficávamos tristes, lógico. E quando veio a notícia verdadeira foi um Carnaval.
Comunicação: Como foi a volta para o Brasil?
Dona Virgínia: Foi um sentimento de muita alegria. Ninguém faz idéia do que é uma guerra sem ter passado por ela.
Comunicação: Depois que a senhora voltou, como foi a readaptação? A partir daí, o que a senhora fez?
Dona Virgínia: Eu me readaptei bem, porque era professora e voltei a exercer a profissão. Mas logo que voltei, tive uma depressão muito grande e quando estava fazendo tratamento, caí, tive fratura de coluna e fui reformada.
Comunicação: A senhora teve depressão depois de voltar da guerra?
Dona Virgínia: Não me lembro muito bem quanto tempo durou… Depois eu me machuquei e naquela época a medicina estava muito aquém da de hoje – faz mais de 50 anos –, eu fiquei nove meses no hospital. Atualmente eles nem fazem mais gesso! Aí fui reformada e fiquei muito tempo me recuperando. Eu precisei usar muletas, se não me engano, por 16 ou 17 anos, e colete ortopédico nem sei por quanto tempo. Eu tive uma vida muito sofrida depois dessa queda.
Comunicação: Ao acompanhar as notícias de hoje sobre guerras que acontecem em algumas regiões do mundo, a senhora sempre compara com aquela que presenciou?
Dona Virgínia: Eu espero que não venha a acontecer a Terceira Guerra Mundial, mas as guerras de hoje são muito diferentes. Há gases, coisas desse tipo. Porque assim como a medicina evoluiu, lamentavelmente, os armamentos também.
Comunicação: Como é, para a senhora, ser uma figura tão importante para o Brasil, receber tantas homenagens?
Dona Virgínia: Eu não me considero uma pessoa importante. Porque tudo que recebi, todas as vezes – e não foram poucas – em que recebi algo, eu sempre disse uma coisa: "Isso quem deveria receber eram os pracinhas que estiveram na frente de batalha, matando para não morrer, para ter essa liberdade relativa, que existe no mundo, inclusive no Brasil".

Reportagem Franciele Bueno, especial para o Comunicação On-line
Edição Vanessa Prateano

2 comentários:

  1. ola me llamo jesus, veo k eres un seguido de cazas y elicopteros yo tambien lo soy jeje e de decirte que yo tambien tengo un blog militar el cual trata mas o menos los mismo temas k el y me gustaria k le echaras un ojo y me dieras una valoracion y de paso si te gusta poder seguirme = k lo estas aciendo con cazas y elicopteros si te gusta nos podemos seguir mutuamente para mejorara las visitas a nuestro blog k te parese ?? saludos Mi blog es http://poderiomilitar-jesus.blogspot.com/

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  2. Gracias, Henrique, por incluirte como seguidor en mi blog Tecnologìa Militar, te retribuyo la acciòn, mas Google +1 en todas las entradas de la pàgina principal.

    Saludos

    Sergio Arocha

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