segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Jair Miranda-Sobrevivente na vida e no campo de batalha

Jair Miranda e o retrato dos tempos da FEB
A Segunda Guerra Mundial não foi o maior desafio para Jair Miranda. Ele perdeu a mãe aos 4 anos de idade e tinha malária. O pai, que morava em Paranaguá, não esperava que o garoto fosse se recuperar e o deixou morando com uma tia em Ponta Grossa. O menino não só melhorou como também ficou sem nenhuma sequela. Beirando à aposentadoria, o pracinha descobriu um tumor no cérebro, que foi extinto numa operação.
Um tubo esquecido na sua cabeça, no entanto, o fez retornar ao centro cirúrgico. Depois de seis horas de cirurgia, o problema estava sanado. Nada que tenha desanimado Jair, que aparenta ter bem menos idade.
O tumor no cérebro foi diagnosticado após fortes dores na cabeça e a perda da visão do olho esquerdo. “O médico me disse: de 100 fica um. Esse ‘um’ fui eu”, ri o ex-combatente. Hoje, ele não toma nenhum medicamento.
Aos 21 anos, Jair embarcou para a Itália. A viagem – 15 dias no navio norte-americano com 5 mil homens a bordo– não foi um problema. “O navio ia de lá para cá e os soldados só vomitando. Eu caçoava enquanto comia na frente deles”, lembra.
Em combate, Jair era mensageiro, ou seja, operava o telefone e transmitia as informações de guerra ao comando. Por isso, estava sempre na companhia dos comandantes. Quase no final do confronto, foi designado para a linha de frente.
O pelotão estava numa casa desocupada pelos italianos devido aos ataques dos soldados alemães. Uma granada atingiu um colega que estava em sua frente. Jair só teve tempo de arrastar o amigo para dentro da casa abandonada para evitar novos ferimentos. Terminada a guerra, soube que o companheiro ferido foi para os EUA colocar uma perna mecânica.
Quando voltou ao Brasil, o ex-combatente trabalhou como carvoeiro na oficina da extinta Rede Ferroviária, em Ponta Grossa, mas não gostou do serviço. As cicatrizes de queimaduras nas mãos ainda servem de lembrança da função.
Pediu demissão, mas pouco tempo depois voltou à Rede. “Me puseram no almoxarifado da oficina da Rede. De lá só saí aposentado”, relata.
Jair diz que a vivência na guerra não mudou seu jeito de ser. “Fui toda vida calmo e ruim, quando era preciso. O que um homem tem que passar, o outro não pode passar por ele”, afirma.

Gazeta do Povo (Josué Teixeira)
Foto:Agência O Globo

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Cartão postal de 1945 com recorte de jornal

Interessante cartão postal de 1945, onde no verso encontra um recorte de jornal colado, do pronunciamento quando da visita ao Brasil do Comandante do 5º Exército Americano,  General Mark W.Clark, onde lutaram juntos na Itália. 
(acervo O Resgate FEB)
(clique na foto para ampliar)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Enfermeiras brasileiras na retaguarda da Segunda Guerra Mundial: repercussões dessa participação

Matéria que copiei do site "Seleção",  muito rico em detalhes para saber como foi a repercussões da participação das enfermeiras brasileiras antes, durante e com a desmobilização.Vale a pena a leitura.
Enfermeiras brasileiras na retaguarda da Segunda Guerra Mundial: repercussões dessa participação

Alexandre Barbosa de Oliveira; Tânia Cristina Franco SantosI; Ieda de Alencar Barreira; Gertrudes Teixeira Lopes; Antônio José de Almeida Filho; Wellington Mendonça de Amorim.
I Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da EEAN/UFRJ. Autor da dissertação. Enfermeiro do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: alexbaroli@yahoo.com.br
II Doutora em Enfermagem. Professor Associado do Departamento de Enfermagem Fundamental da EEAN/UFRJ. Orientadora da dissertação. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: taniacristinafsc@terra.com.br
III Doutora em Enfermagem. Membro do Corpo Permanente do Programa de Pós-Graduação da EEAN/UFRJ. Pesquisadora CNPq 1A. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: iedabarreira@openlink.com.br
IVPós-Doutora em Enfermagem. Professor Titular da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: gertrudeslopes@uol.com.br
V Doutor em Enfermagem. Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem Fundamental da EEAN/UFRJ. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: ajafilho@terra.com.br
VI Doutor em Enfermagem. Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem de Saúde Pública, da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail:amorimw@gmail.com
RESUMO

Estudo histórico-social, cujos objetivos foram descrever as circunstâncias da mobilização e da desmobilização das enfermeiras brasileiras que atuaram na Segunda Guerra Mundial, e discutir a eficácia simbólica da participação dessas enfermeiras no campo militar. Utilizou-se como fontes de dados os documentos escritos coletados em arquivos históricos civis e militares do Rio de Janeiro; entrevista realizada com uma enfermeira que atuou na Força Expedicionária Brasileira; além de uma fotografia pertencente ao Acervo da Força Expedicionária Brasileira. Os achados, classificados, contextualizados e analisados à luz da Teoria do Mundo Social de Pierre Bourdieu, evidenciaram que a participação de mulheres na guerra, na condição de enfermeiras militares, ao tempo em que representou a ocupação de um espaço homologado por mandatários do poder, também contribuiu para consagrar a inserção de mulheres em espaços públicos consagrados aos homens, ainda que na retaguarda.

Descritores: Enfermagem. História da enfermagem. Enfermagem militar. Segunda Guerra Mundial.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

No transcurso da Segunda Guerra Mundial - IIGM foi criado um Corpo de Enfermeiras para o Serviço de Saúde do Exército, a fim de ser incorporado à Força Expedicionária Brasileira (FEB), órgão criado pelo presidente Getúlio Vargas, após ter sido declarada guerra aos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Este grupamento de enfermagem foi mobilizado para prestar apoio de saúde aos soldados brasileiros que iriam atuar nos campos de batalha durante a IIGM, e, de certo modo, passou a servir de sustentação ao discurso oficial do governo de que não faltaria socorro àqueles cidadãos que se prontificassem a defender a Nação através do voluntariado à FEB.
A aparição pública de 67 enfermeiras foi tematicamente explorada por algumas reportagens da imprensa da época, que não se furtavam em exaltar a figura feminina como símbolo de uma Pátria-Mãe, situação esta que acabava por valorizar simbolicamente àquelas mulheres que iriam cuidar dos soldados cidadãos brasileiros no front..
Por terem composto um grupo pioneiro dentro do Exército Brasileiro, pois foram elas as primeiras representantes do sexo feminino a participarem regularmente dos quadros do efetivo militar desta Força, tiveram que enfrentar uma série de lutas a fim de permanecerem nesse campo na qualidade de militares de fato.
Uma vez terminada a guerra, a FEB foi desmobilizada, inclusive o seu Corpo de Enfermeiras. Tal medida devia-se ao receio de alguns segmentos do governo estadonovista sobre o valor simbólico da FEB, uma vez que o perigoso ideal febiano de combater os regimes totalitários poderia servir de argumento estratégico aos opositores de Getúlio Vargas..
Não obstante, devido aos lucros simbólicos que conseguiram angariar por ocasião de sua participação no Serviço de Saúde da FEB durante a IIGM, essas enfermeiras conseguiram avivar alguns mecanismos de resistência em relação à violência simbólica que tiveram que enfrentar, por ocasião da desmobilização.
Deste modo, elas lançaram-se em novas frentes, lutando pelo reconhecimento de sua expressão e contra o obscurecimento de suas atuações nos hospitais de campanha da IIGM. Assim, a exclusão sofrida por elas abrigou a confluência de alguns efeitos, que foram, em parte, reflexos do aspecto consagrador da conquista que materializaram ao conseguirem ter erodido as barreiras que lhes impedia o acesso ao espaço militar.
Diante do exposto, foram traçados os seguintes objetivos: descrever as circunstâncias da mobilização e da desmobilização das enfermeiras brasileiras que atuaram na IIGM, e discutir a eficácia simbólica da participação dessas enfermeiras no campo militar.

ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA

Trata-se de um estudo de cunho histórico e social, com abordagem qualitativa, que deriva do projeto de dissertação de mestrado - Signos do esquecimento: Os efeitos simbólicos da participação das enfermeiras da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial (1943-1945), cadastrado no Núcleo de Pesquisa de História da Enfermagem Brasileira (Nuphebras), da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e concluído em maio de 2007.
As fontes primárias constituíram-se de documentos escritos coletados na cidade do Rio de Janeiro durante o período de 2004 a 2007, nos seguintes locais: Centro de Documentação da EEAN/UFRJ; acervo pessoal da capitão enfermeira Virgínia Maria de Niemeyer Portocarrero; Arquivo Histórico do Exército; Biblioteca Franklin Dória e Acervo da FEB abrigados no Palácio Duque de Caxias. Também foi utilizada uma fotografia do desfile de uma parte do grupamento de enfermeiras na capital federal, às vésperas do embarque para o teatro de operações europeu, disponível no acervo da FEB.
As fontes primárias constaram ainda de uma entrevista com uma enfermeira da FEB, a major reformada Elza Cansanção, realizada no mês de outubro de 2006 na cidade do Rio de Janeiro. E, além desta entrevista, elegemos o uso de alguns livros que reúnem as memórias de algumas enfermeiras brasileiras que participaram da FEB. Tratados pelo método da história oral temática, e sob o amparo da História Nova, estes auto-relatos serviram para ampliar e facilitar a compreensão acerca das posições que elas ocuparam no campo militar, bem como para reconstruir parte da trajetória histórica desse grupo.
Sobre as fontes secundárias, adotamos as que possuíam nexos efetivos com a temática. Assim, utilizamos algumas publicações que tratavam da História da Enfermagem Brasileira, História das Mulheres, História Militar, e História do Brasil.
Após a reunião dos dados, procedemos à organização e à classificação temática. A contextualização desenvolvida e a análise do corpus documental foram respaldadas nos conceitos de campo, capital e poder simbólicos, habitus, e dominação masculina, da Teoria do Mundo Social de Pierre Bourdieu.
Vale salientar que as enfermeiras que fizeram parte do Exército durante a IIGM, agentes preferenciais deste estudo, são aqui identificadas como febianas, siglônimo adaptado e derivado da sigla FEB a qual faz alusão à Força Expedicionária Brasileira, tropa que foi composta pelas Forças Armadas brasileiras de Marinha, Exército e Aeronáutica durante a guerra. Este termo foi utilizado no estudo para adjetivar as 67 mulheres que compuseram o Quadro de Enfermeiras do Serviço de Saúde do Exército na FEB. Apesar da FEB ter incorporado também mais seis enfermeiras através da Aeronáutica, estas não foram tratadas neste estudo, por terem as circunstâncias de sua mobilização e participação diferenciadas no conflito.
Ressaltamos que este estudo buscou atender as orientações da Resolução Nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, que os aspectos ético-legais foram cuidadosamente considerados e que o Comitê de Ética em Pesquisa da EEAN/Hospital-Escola São Francisco de Assis emitiu parecer favorável, cujo documento foi protocolado sob o Nº 077/06, em 26/09/06.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Enfermeiras para a guerra: a breve aparição pública do primeiro grupamento feminino de enfermagem do Exército Brasileiro
Durante o Estado-Novo (1937-1945), o Brasil esteve sob a liderança do presidente Getúlio Vargas, que, para manter seu regime, buscou alianças com o Exército Brasileiro. Vargas identificou nos militares sua principal força de sustentação, porque, por características das próprias instituições castrenses, fixavam-se as idéias de união e de ordem que seu Estado Novo estava pretenso em fomentar. Neste período eclodiu a IIGM, deixando o Brasil numa situação melindrosa, pois, sob o regime autoritário estadonovista viviam, no país, muitos simpatizantes da ideologia nazi-fascista, além daqueles que promoviam um forte lobby em prol da política praticada pelos norte-americanos à época.
Com o início da guerra, Vargas tentou estabelecer um estado neutro, ou seja, não defendeu abertamente nenhuma posição de apoio aos países aliados ou aos nazi-fascistas. Contudo, após o ataque japonês à base norte-americana de Pearl Harbor (Havaí) em 7 de dezembro de 1941, que levou os Estados Unidos definitivamente para a guerra, o Brasil, forçosamente, e ao mesmo tempo estrategicamente, acabou por declarar solidariedade aos Estados Unidos.
Este posicionamento rendeu ao país um grande número de torpedeamentos de sua frota naval por parte dos submarinos alemães. Centenas de brasileiros foram mortos nesses ataques, o que aflorou o sentimento de indignação por parte do povo, que foi às ruas para cobrar do governo uma postura mais ofensiva face às perdas sofridas.
Assim, Vargas passou a promover a defesa do litoral brasileiro, e, inclusive, passou a estruturar o envio de um Corpo Expedicionário à guerra, o que tornou efetiva a participação do país no conflito. Deste modo, foi criada em 9 de agosto de 1943, a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária, que contou com um efetivo de 25.334 cidadãos. Esta Divisão constituiu-se em organização combatente da FEB, que reuniu as forças armadas brasileiras de terra, mar e ar para lutar na IIGM, as quais ficaram a comando do general Mascarenhas de Moraes.
Não tardou muito e fez-se necessária a mobilização de enfermeiras para a FEB. Apesar do Exército já possuir cabos e sargentos enfermeiros em seus quadros, que eram formados pela Escola de Saúde do Exército desde 1921, houve uma orientação norte-americana para a criação e envio de um corpo feminino de enfermagem, por motivos ainda não muito bem esclarecidos. Para dar conta disso, o Exército buscou o apoio de D. Laís Netto dos Reys, diretora da Escola Anna Nery, a fim de que se viabilizasse a participação de alunas oriundas desta instituição no Serviço de Saúde da FEB. Entretanto, a adesão almejada não foi efetivada, devido à proposta do Exército em não conferir às enfermeiras ananéri posto militar e remuneração condizente, motivo pelo qual a diretoria da referida Escola não se colocou favorável neste pleito.
Essa recusa provocou uma certa confusão na organização do quadro, por isso, o Exército teve que abrir voluntariado, cuja divulgação foi realizada através da imprensa da época. Depreende-se, assim, que o reconhecimento dessa situação revelou uma forma algo suspeitosa, e ao mesmo tempo excludente, que mui provavelmente tenha sido ditada pelos limites nas relações entre os homens e as mulheres à época no campo social.
Para motivar a adesão ao voluntariado, um forte apelo patriótico mostrou-se presente na propaganda midiática veiculada que anunciava a possibilidade de ingresso para a mulher num cenário eminentemente masculino. O trecho a seguir ilustra as circunstâncias dessa convocação.
"O Jornal O Globo publicou o voluntariado e inúmeras foram as patrícias que de imediato acorreram à sua chamada... Reuni meus documentos e apresentei-me sem comentar com a minha família, pois se agisse diferente, nada conseguiria... É lógico e humano que as primeiras reações daqueles que eu tanto amo foram as mais difíceis de acatar... O Globo publicou minha apresentação. Os telefonemas foram inúmeros: uns orgulhosos do meu ato, outros achando uma ingratidão para com todos que me estimavam. E assim, analisada, comentada, eu enfrentei entusiasmada o meu ato."
Após a convocação, foi realizada a seleção das que iriam participar do Curso de Emergência de Enfermeiras da Reserva do Exército. Durante o curso, que foi organizado em diversos estados brasileiros, as enfermeiras passaram por um intenso treinamento militar a fim de prepará-las para as situações de guerra. Vale ressaltar que muitas foram as dificuldades que tiveram de ser enfrentadas por aquelas mulheres no curso, como, em parte, aponta o trecho a seguir: "Eram dadas aulas em vários lugares do Rio de Janeiro: Faculdade de Medicina da Praia Vermelha, Hospital Central do Exército, Cruz Vermelha, Forte São João. Quando chegava a noite, eu estava exausta. Havia aulas que eu achava desnecessárias, de ordem unida, de educação física, de fazer continência. Depois, na Itália, eu percebi que as coisas importantes não haviam sido ensinadas, como fazer a conversão dos graus Fahrenheit, dos termômetros americanos em graus Celsius dos nossos. Os médicos americanos, lá, desconfiavam da tomada de temperatura por nossas enfermeiras...".
Apesar das deficiências apresentadas, esse treinamento inicial representou uma estratégia de homogeneização do comportamento das candidatas, mediante a aquisição de capital cultural, que viabilizou a incorporação de umhabitus militar para aquelas enfermeiras.
Um aspecto que chama atenção no grupo de voluntárias que realizou o curso é o caráter heterogêneo, principalmente no que diz respeito ao capital cultural e social de que tinham posse. A preocupação com esta condição se reveste de importância uma vez que os diversos tipos de capitais são instrumentos de acumulação que, quanto maior o volume possuído e investido pelo indivíduo em um determinado campo, maiores serão suas possibilidades de ter um bom retorno. O enxerto da fala de uma das entrevistadas é exemplar, no sentido de evidenciar as repercussões da heterogeneidade do grupo de enfermeiras no cuidado aos enfermos de guerra:"Isso foi ruim para a imagem das enfermeiras brasileiras. Algumas das escolhidas tinham pouca ou nenhuma formação. Num caso que tomei conhecimento, a enfermeira americana anotou no prontuário de uma brasileira: not good nurse, not good girl, not good to stay here."
Conforme esperado, o processo de inserção daquelas mulheres ao meio militar foi bastante dificultoso, pois elas foram notadamente marginalizadas neste processo. Tal afirmação pode ser confirmada por este relato: "As primeiras voluntárias do Brasil sofreram difamações horríveis. Até a mulher de um militar de alta patente do Exército tachou-nos de 'prostitutas que queriam ir para a guerra para fazer a vida'. A nossa guerra, na realidade, começou aqui mesmo".
Sobre este trecho destacado, ressaltamos que: "Agir no espaço público não é fácil para as mulheres, dedicadas ao domínio privado, criticadas logo que se mostram ou falam mais alto. Além disso, com freqüência, elas apóiam-se em seus papéis tradicionais, e aí tudo vai bem. Entretanto, tudo se complica quando tentam agir como homens".
Deste modo, vêem-se contradições nessas expectativas de papel quando se esperam, ao mesmo tempo, características de altruísmo, abnegação, caridade, ao lado de um suposto comportamento, imoral, infameassim, algumas contradições demarcaram positivamente e negativamente a aparição pública das enfermeiras febianas.
Apesar de tais contradições, é simbolicamente notável que a FEB passou a dispor de um grupamento de enfermeiras, que, na condição de voluntárias, seriam enviadas para os campos de batalha para socorrer aos patrícios que se prontificassem a defender a Nação. Para tal, essas moças sobrepuseram-se ao anonimato e romperam os pressupostos da vida privada para inscreverem suas figuras na vida pública do país. Parte desta idealização pode ser verificada no registro fotográfico a seguir, que sacraliza a possessão da visibilidade social angariada pelo grupo.

A fotografia ilustra um trecho do desfile da FEB no Rio de Janeiro em 31 de março de 1944. Nesta ocasião, os expedicionários tiveram a oportunidade de apresentarem-se em público e de receberem solenemente as despedidas da presidência da República e da população carioca.
A leitura dos signos, que envolvem a expressividade simbólica contida no texto fotográfico, fixa-se na evidência do ato de tornar manifesto para a sociedade a existência de mulheres enfermeiras no Exército Brasileiro. Isto proporcionou uma imagem positiva do grupo, ao mesmo tempo em que refletiu e documentou uma estética inerente à sua aparição no mundo social, o que serviu para perpetuar sua expressão simbólica.
Assim, a utilização do uniforme e a ostentação dos emblemas militares por elas naquele evento se constituíram em uma estratégia de imposição de sua identidade de enfermeira militar, uma vez que os signos exteriores ao corpo (uniformes) juntamente com os signos incorporados (habitus militar), a partir da mobilização para a guerra e da presença delas no desfile, sinalizaram bem a posição social ocupada por elas no campo através desses eficazes instrumentos simbólicos.10
Ao chegarem aos hospitais de campanha na Itália, as enfermeiras se depararam com novos dissabores, pois o material fornecido a elas em termos de vestuário fora inadequado, de má qualidade, e pouco prático. Além disso, o serviço de saúde norte-americano se recusou a admitir em seus hospitais enfermeiras que não fossem oficiais, situação que, em parte, foi resolvida pelo coronel Marques Porto, chefe do Serviço de Saúde da FEB, que tomou a iniciativa de distribuir entre as enfermeiras as estrelas de insígnia de 2º tenente, efetivando todo o grupo no referido posto, entretanto, elas passaram a ser oficiais, mas sem receber soldo correspondente à esta nova posição. Soma-se a isso, as condições inóspitas do inverno europeu, e as dificuldades dramáticas relacionadas aos cuidados de Enfermagem prestados por elas a soldados numa situação de guerra real.
Após um período de 239 dias de atividade ininterrupta, a FEB encerrou suas operações na Itália alcançando o mérito de ter obtido inúmeros elogios por parte dos comandantes do Exército Norte-Americano. Mas, antes mesmo do fim da guerra, em julho de 1945, enquanto a FEB aguardava seu regresso ao Brasil, o governo, percebendo que a nova visão de mundo dos expedicionários poderia ser incompatível com seu regime ditatorial, resolveu desmobilizá-la.
Tal determinação pode ser entendida como resultante de uma preocupação com as prováveis consequências do retorno da vitoriosa e prestigiada FEB ao Brasil, uma vez que os febianos poderiam utilizar-se de sua força material e simbólica sobre a estrutura política do país, devido à autoridade e ao capital simbólico que reuniram no decorrer das lutas que travaram, e pelas eventuais repercussões políticas que traria.
Sobre as circunstâncias que envolveram especificamente a desmobilização das enfermeiras, uma das entrevistadas assim pronunciou.
Quando nós chegamos aqui no Brasil, nós já viemos desmobilizadas. Nós já viemos da Itália desmobilizadas... Nós só fizemos entregar o material que tinha que entregar e tchau, tchau! Vai embora pra casa! (Enfermeira Elza Cansanção).
De certo modo, a desmobilização definiu uma perda significativa para o grupo de enfermeiras quanto à privação de posições que eram ocupadas por aquelas mulheres, perda essa que acabou por abarcar prejuízos de ordem social, financeira e moral. Sob outra vertente, ao terem sido sumariamente excluídas, o Serviço de Saúde do Exército, deixou de ter em seu efetivo um grupamento de enfermeiras que incorporou um capital cultural e profissional específico no que diz respeito à experiência angariada por elas em diversos cenários operativos de guerra, espaços estes que, por sua natureza, na percepção de tais enfermeiras, reúnem elementos complexos e relevantes para a prática de Enfermagem. Sobre esse enfoque, destacamos o seguinte trecho.
Nós todas ficamos muito aborrecidas com a situação, porque era obrigação do Exercito nós termos continuado, e não jogado a gente na rua... Os hospitais [do Exército] necessitavam de nós! [...] Nós já tínhamos um treinamento grande! O nosso treinamento era como o de todas as Escolas de Enfermagem... Não tem uma profissional dessas daqui que tenha conhecimento da metade do que nós tivemos durante a campanha...(Enfermeira Elza Cansanção).
Percebe-se deste trecho, que a entrevistada reproduziu de modo enfático o peso e o volume do capital que acumularam e atualizaram as enfermeiras da FEB por ocasião de sua atuação em campanha, em situações de emergência clínico-cirúrgica que exigiram prontidão intelectual e habilidade profissional. Deste modo, apesar da grande maioria das Enfermeiras febianas não portar diplomas outorgados por escolas reconhecidas como padrão à época, a incorporação dos diversos tipos de capital (social, cultural, militar e simbólico), em função da participação na guerra, se constituiu em um ganho simbólico expressivo para esse grupo
Em setembro de 1945, embarcavam de Nápoles (Itália) para o Brasil as últimas enfermeiras brasileiras da FEB, que ainda lá se encontravam. Elas retornaram junto com o quinto e último escalão da FEB no navio de transporte americano James Parker, com um hospital improvisado a bordo. Com o desembarque no Brasil deste último grupo, concluía-se a missão das febianas. Sobre este momento, o seguinte trecho revela emblematicamente e de modo emocionante as impressões de uma das últimas enfermeiras que chegaram ao Brasil.
"Depois, a melancólica arribada ao porto do Rio... Chegar tropa da Itália já era coisa vista, e não interessava mais! O desejo insopitável era agarrar a bagagem o mais cedo possível e sumir! E foi assim que, ali, no Armazém 13 do Cais do Porto do Rio, desliguei-me para sempre, melancólica e silenciosamente do que restava da FEB. Ainda envolvi o James Parker num último olhar de pesar e de saudade: ele representava ponto final numa história de sacrifícios, sem nenhuma paga, a não ser a consciência do dever cumprido"
Neste trecho, residem vestígios que fazem ver um certo descontentamento e pesar sobre a pouca visibilidade que foi atribuída às enfermeiras febianas em seu retorno ao solo pátrio. E, de fato, pouco foi feito para tornar conhecida e reconhecida, oficialmente e publicamente, sua atuação. Deste modo, a construção social da imagem daquelas enfermeiras de guerra não foi consolidada eficazmente no imaginário popular. Aliás, parafraseando Michelle Perrot, uma mulher que desaparece não representa muita coisa no espaço público.
A eficácia simbólica advinda da participação das enfermeiras febianas no campo militar
A relativa visibilidade angariada pelas enfermeiras febianas através de sua atuação durante a IIGM evidenciou uma certa ruptura de paradigmas que, por certo, fez mover a fronteira existente entre homens e mulheres. Porém, logo após terem sido desmobilizadas, essa evidência esmaeceu-se, o que delimitou a expressividade desse grupo no cenário social.
Ademais, no pós-guerra imediato o país experimentava fases pacíficas politicamente e militarmente. Enfermeiras de guerra, a princípio, não teriam mais lugar num novo mundo de paz e de democracia. Assim, houve poucas pessoas interessadas, de fato, em defender a permanência de mulheres nas Forças Armadas naquele momento.
Iniciava-se um processo de obscurecimento da participação daquelas enfermeiras no Exército Brasileiro, e mais ainda, de abstração da necessidade de se ter um corpo feminino regularmente incorporado ao seu efetivo. Assim, pressupomos que a estrutura da distância sexual neste campo estaria, mantida por ora.
Além disso, após o término da guerra, e diferentemente dos preparativos para o embarque, um certo silêncio da imprensa foi notado acerca da participação das enfermeiras febianas no conflito. Sobre isso, destacamos o fragmento a seguir, que registra a percepção de uma delas acerca das notícias veiculadas pela imprensa por ocasião da chegada das enfermeiras ao Brasil.
Ignorou! Não deram destaque... Uma notinha ou outra é o que saía. Muito poucas entrevistas, muito pouca coisa! Não houve um movimento... (Enfermeira Elza Cansanção)
Sob outra vertente, há que se mencionar que, enquanto estavam no front, as febianas trabalharam em diferentes tipos de hospitais do Exército Norte-Americano. Nesses hospitais, as brasileiras ficaram agregadas às chefias de enfermagem americanas, as quais transmitiam suas ordens para as enfermeiras febianas através da oficial de ligação, que era brasileira. Sobre essa experiência, destacamos o seguinte trecho - "Os bons exemplos devem ser imitados e um bom exemplo é a organização militar americana, pelo menos na parte que nos interessa aqui, no Serviço de Saúde e dos seus componentes. Não só deveríamos criar nossa organização feminina, como deveríamos trazer algumas especialistas para nos orientarem de início. Sem essa orientação geral, nada conseguiremos, pois, para termos um quadro de enfermeiras adequado serão precisos anos de estudo, de trabalho e entusiasmo".
Vários fatores envolveram a posição desvantajosa que as enfermeiras brasileiras ocuparam nos hospitais de campanha, tais como: competência técnica, incorporação de habitus militar, domínio do idioma oficial, aparência pessoal (padrão étnico, hábitos de consumo, qualidade dos uniformes e da lingerie), além de questões relativas à hierarquia. Assim, elas passaram a usar os produtos dos norte-americanos (uniformes, equipamentos, medicamentos, artigos de toalete etc), o que acabou por influenciar na configuração de sua prática, viabilizada por essa participação conjunta entre os serviços de enfermagem dos dois países.
Essa expansão do padrão americano tendeu a inculcar disposições as quais determinaram a incorporação de novos signos, ou seja, tudo aquilo englobado na rubrica das maneiras de se comportar, de se vestir, de trabalhar, de se postar, pois ao longo do tempo, as melhores estratégias acabam por ser adotadas pelos grupos e são incorporadas pelos agentes como parte de seu habitus
Com isso, inevitavelmente, o habitus das enfermeiras febianas passou por um processo de (re)atualização, em grande parte, fruto da assimilação de outras culturas, de novas tecnologias para desenvolver o trabalho profissional de enfermagem, de terem trabalhado com equipes norte-americanas altamente preparadas e organizadas para enfrentamento de situações de guerra. Naquela ocasião, as brasileiras travaram contato com o moderno sistema de saúde americano, onde a penicilina, o sangue, a anestesia e os novos aparelhos eram até então desconhecidos. Além disso, nos hospitais de campanha elas atenderam indistintamente pacientes brasileiros, americanos, ingleses, alemães e italianos.
Assim, não foi somente o choque cultural o que se verificou naquela ocasião, mas também os choques moral, psicológico, ideológico, e, sobretudo, material, com a gente e com as coisas do mundo desenvolvido. As diferenças eram evidentes. Na atualidade, nossos hospitais ainda são fechados por falta de verba, enquanto que há praticamente 60 anos atrás, os americanos mantinham os seus operando na Itália de tal forma que podiam receber mais de 1.000 feridos num dia, sem que faltassem enfermeiras, conforto e comida.
Um efeito notável a ser referido foi a personificação delas como "enfermeiras de guerra", a qual conferiu-lhes um poder que elas antes não possuíam, pois a natureza dessa condição encerrou em si o contato com dificuldades e embates cujo resultado acabou por promover a mobilização de novos valores, que (re)posicionaram seus pensamentos e que (re)processaram novas tomadas de ação. Aliás, este aspecto é marcante em determinados relatos feitos por elas em algumas publicações no pós-guerra.
Além disso, as atitudes inculcadas pelo discurso patriótico, que anunciou a necessidade de enfermeiras para a guerra, predispuseram boa parte daquelas jovens a aceitarem, ou mesmo a desejarem, participar do mundo militar. Como implicação disto, seu capital simbólico foi atualizado pela experiência que obtiveram e por todas as mudanças de atitudes que esta expressar.
Intrínseca a esses aspectos, a incorporação de um posicionamento mais politizado, e, de certa forma, mais combativo, trouxe como consequência para a visão de mundo das enfermeiras febianas a ampliação das interpretações acerca do significado de suas participações na guerra. Esta extensão de seus ideais definiu modificações em seu habitus, o que foi nitidamente verificado nos sentimentos e ideologias expressados por elas, por ocasião de seu regresso.
Desse modo, o que passou a estar em jogo, principalmente após a guerra, foi o poder de se apropriar de vantagens simbólicas associadas à posse de uma identidade legítima, a fim de reapropriar coletivamente para o grupo de enfermeiras febianas o poder sobre os princípios de construção e de avaliação de sua própria existência para se fazerem reconhecer não somente como um grupo de vencidas.
Parte dos privilégios dessa consagração simbólica, residem nas palavras (emocionadas) do fragmento abaixo, que encerrou princípios que elas construíram sobre o reconhecimento de sua própria existência.
Nós fomos muito injustiçadas sempre... Sem falsa modéstia... Só o fato de termos nos apresentados pra guerra já foi um feito extraordinário! Porque, um país tipicamente pacífico, como é o nosso, [cujas] revoluções nós resolvemos com meia dúzia de palavrões e poucas balas. É mais na conversa que ganhamos... Nós enfrentarmos uma guerra... Sair do país, das nossas casas com conforto, pra ir viver numa barraca de lona, pegando dezesseis graus abaixo de zero, com alimentação, com tudo diferente do que estávamos acostumadas, pela obrigação do patriotismo em defender a nossa gente, em procurar dar o melhor, em ajudar na defesa do nosso soldado... Nós não recebemos até então, o agradecimento merecido! (Enfermeira Elza Cansanção).
A despeito dessas objeções, aquelas enfermeiras brasileiras de guerra inscreveram na História da Enfermagem Brasileira o ingresso em um campo praticamente inédito à profissão, pois representaram a única categoria profissional (com mulheres) a participar efetivamente nas composições dos Quadros de Serviço das Forças Armadas no Brasil, o que, de certo modo, concorreu para que se desse visibilidade à Enfermagem, devido à mesma ter sido feita necessária em um conflito de ordem mundial de grande alcance político-social.
Nesse sentido, entendemos que a conquista do serviço militar para aquelas mulheres (mesmo que temporalmente) representou uma arma simbólica que erodiu as barreiras que lhes impedia o acesso àquele mundo masculino. Assim, elas conseguiram romper (simbolicamente) os elos das correntes da dominação que as subjugavam, ainda que reforçando características intrínsecas à natureza feminina. Sobre isso, o trecho a seguir é emblemático:
"E nunca mais se diga que a zona de combate não é lugar para mulher! Venham ver o que uma enfermeira pode fazer de bom e milagroso a um homem ferido! Muitas e muitas vezes, uma mão carinhosa sobre uma testa escaldante, um lençol bem esticado, um sorriso, uma face de mulher fazem mais pelo ferido do que um litro de plasma."
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A criação do Quadro de Enfermeiras do Exército em 1943 pode ser considerada como uma ruptura do discurso paternalista, que afirmava ser no lar o lugar da mulher. Esta mobilização serviu para elucidar os moldes da metáfora da Pátria-Mãe, a qual promoveu a transposição dos valores imagéticos da vocação feminilizante da mulher no seio familiar para o recrutamento de enfermeiras-soldado, que iriam atuar nos hospitais de campanha durante a guerra. Assim, essas voluntárias da pátria assumiram o risco de ir além dos limites módicos que circundavam o universo feminino à época em seu terreno profissional.
Mesmo tendo sofrido os efeitos da dominação masculina, o capital simbólico que elas acumularam por sua atuação nos hospitais de campanha marcou-as de forma significativa. Entretanto, logo após a guerra elas foram desmobilizadas da FEB, e, também, mais tarde, esquecidas, o que dificultou o (re)conhecimento da atuação daquele que foi o primeiro grupamento feminino de Enfermagem do Exército Brasileiro.
Ademais, o poder oriundo do exercício de seu habitus (re)atualizado no pós-guerra promoveu um movimento dicotômico da memória e do esquecimento, e essa dicotomia condicionou-as para consagrarem uma atitude de "interdição do esquecimento" e, por extensão, de luta pela valorização de suas reminiscências.
Por fim, a aparição pública das enfermeiras febianas pode ser entendida como um epicentro da história das mulheres brasileiras nas forças armadas. História esta que, ao estar contida no grande campo da História da Enfermagem Brasileira, não se constituiu em uma história isolada por si só. Ao contrário, ela conserva um traço comum com a história das mulheres na Enfermagem, a qual revela uma diversidade de condições dificultosas que se assemelham com aquelas que há muito as enfermeiras brasileiras tiveram que enfrentar, e ainda enfrentam.


Texto contexto - enferm. vol.18 no.4 Florianópolis Oct./Dec. 2009

http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072009000400010 

Fotos das enfermeiras febianas na Itália,  do acervo O Resgate FEB
Fotos de três enfermeiras febianas na Itália em Pistoia.
 A primeira da esquerda a tenente enfermeira Ondina Miranda de Souza-16th Evacuation Hospital em Pistoia
A enfermeira do centro  e a 2º tenente Silvia de Souza Barros-6th Evacuation Hospital em Pistoia.
A enfermeira da direita Virginia Maria de Niemeyer Portocarrero-16th Evacuation Hospital em Pistoia.

Foto de Jandira Bessa de Meirelles do lado de um soldado que parece ser brasileiro, ela ficou no 7 th Station Hospital em Livorno - EVACUADAS – Via USA ou Brasil.