segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Jair Miranda-Sobrevivente na vida e no campo de batalha

Jair Miranda e o retrato dos tempos da FEB
A Segunda Guerra Mundial não foi o maior desafio para Jair Miranda. Ele perdeu a mãe aos 4 anos de idade e tinha malária. O pai, que morava em Paranaguá, não esperava que o garoto fosse se recuperar e o deixou morando com uma tia em Ponta Grossa. O menino não só melhorou como também ficou sem nenhuma sequela. Beirando à aposentadoria, o pracinha descobriu um tumor no cérebro, que foi extinto numa operação.
Um tubo esquecido na sua cabeça, no entanto, o fez retornar ao centro cirúrgico. Depois de seis horas de cirurgia, o problema estava sanado. Nada que tenha desanimado Jair, que aparenta ter bem menos idade.
O tumor no cérebro foi diagnosticado após fortes dores na cabeça e a perda da visão do olho esquerdo. “O médico me disse: de 100 fica um. Esse ‘um’ fui eu”, ri o ex-combatente. Hoje, ele não toma nenhum medicamento.
Aos 21 anos, Jair embarcou para a Itália. A viagem – 15 dias no navio norte-americano com 5 mil homens a bordo– não foi um problema. “O navio ia de lá para cá e os soldados só vomitando. Eu caçoava enquanto comia na frente deles”, lembra.
Em combate, Jair era mensageiro, ou seja, operava o telefone e transmitia as informações de guerra ao comando. Por isso, estava sempre na companhia dos comandantes. Quase no final do confronto, foi designado para a linha de frente.
O pelotão estava numa casa desocupada pelos italianos devido aos ataques dos soldados alemães. Uma granada atingiu um colega que estava em sua frente. Jair só teve tempo de arrastar o amigo para dentro da casa abandonada para evitar novos ferimentos. Terminada a guerra, soube que o companheiro ferido foi para os EUA colocar uma perna mecânica.
Quando voltou ao Brasil, o ex-combatente trabalhou como carvoeiro na oficina da extinta Rede Ferroviária, em Ponta Grossa, mas não gostou do serviço. As cicatrizes de queimaduras nas mãos ainda servem de lembrança da função.
Pediu demissão, mas pouco tempo depois voltou à Rede. “Me puseram no almoxarifado da oficina da Rede. De lá só saí aposentado”, relata.
Jair diz que a vivência na guerra não mudou seu jeito de ser. “Fui toda vida calmo e ruim, quando era preciso. O que um homem tem que passar, o outro não pode passar por ele”, afirma.

Gazeta do Povo (Josué Teixeira)
Foto:Agência O Globo

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