domingo, 11 de abril de 2021

Expedicionário Odorico Dias de Góes

Odorico Dias de Góes
Odorico Dias de Góes, morador de Ponta Grossa, entrou no Exército por acaso. Estava insatisfeito com o trabalho numa serraria quando ouviu um anúncio no rádio que convocava jovens para o antigo 13.º Regimento de Infantaria (RI). Na serraria, recebia o ordenado de 3 mil réis e como soldado ganharia 19 mil.
Largou o que estava fazendo e arriscou ser soldado. Gostou. Ficou 31 anos no Exército. “Nunca recebi uma punição”, diz o major, que coleciona medalhas e diplomas. O expedicionário desafia a idade  e detalha sua participação na Segunda  Guerra Mundial.
“Saí do 13.º RI com um contingente de 334 homens, entre soldados, cabos, sargentos e oficiais.” Ele não imaginava encontrar um cenário tão devastador na Itália. “Nápoles foi destruída pelos alemães. Tinha gente morrendo de fome. Nós tínhamos bolacha e jogávamos para eles. A bolacha caía no barro, eles pegavam e engoliam do jeito que estava”, afirma.
Em solo italiano, a ordem era de alerta. Odorico conta que não podia tomar água de nenhum riacho, porque poderia estar envenenada. “Ficávamos num buraco redondo, agachados o dia inteiro, não podia tirar a cabeça para fora porque o (soldado) alemão tinha uma metralhadora muito potente que dava 1,2 mil tiros por minuto”, conta.
Lembranças
As duas cenas mais marcantes no front foram a rendição de um pelotão alemão frente ao comando brasileiro e o anúncio do final da guerra. “Os brasileiros jogavam seus capacetes para cima. Foi a maior festa. Estava todo mundo com saudade da família”, diz.
Antes de voltar para o Brasil, Odorico foi escolhido entre os pracinhas para viajar a Lisboa. “Portugal queria prestar uma homenagem para a tropa. Ficamos dois dias em Lisboa. Anunciaram nossa chegada em um alto-falante. Tinha gente trepando em árvore para nos ver. A gente ia passando e as pessoas jogavam pétalas de rosas para nós”, relata.
A melhor recepção, no entanto, foi na estação de Ponta Grossa. A esposa Anita tinha pedido para a banda do Exército tocar na chegada do ex-combatente. Ele não a via desde o casamento, ocorrido 28 dias antes da partida para a guerra.
Depois do retorno ao país, Odorico subiu degraus na carreira militar até graduar-se major. Ele trabalhou em Cáceres (MT), Curitiba, Irati, Lapa e Ponta Grossa. “Eu tenho uma família maravilhosa, com cinco filhos, 13 netos e oito bisnetos. Tive uma vida muito boa”, diz.


A gazeta do Povo

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