segunda-feira, 18 de julho de 2022

Capitão Flávio Franco Ferreira - 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado da F.E.B

Flávio Franco Ferreira, nascido em 13 de maio de 1906. Ele foi Capitão de Cavalaria que comandou o 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado da 1ª DIE,1 desde 1943 a 1945 na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial.
“Lembro muito bem daquele dia, era janeiro de 1945 e minha mãe havia recebido uma carta vinda do 7º Hospital de Campanha, na Itália, onde dizia: “Prepare um arroz de camarão para o dia 16.” Era uma mensagem do meu pai que estava na Itália, pedindo seu prato preferido para comemorar sua volta no dia 16 de fevereiro daquele ano. No dia em que ele voltou para a casa foi uma festa! A varanda no sobrado do nosso casarão, passou a ser o ponto de observação para os amigos e familiares. Eu estava ali entre eles, quando vi um comboio com dois veículos militares. Talvez esta seja a lembrança mais antiga em minha memória: um jipe e uma caminhonete contornando um meandro da rua sinuosa. As viaturas pararam em frente de casa.
De cada uma desembarcaram dois homens fardados. O meu Velho deu um passo a frente e eu o vi. Havia um alarido infernal. Os motoristas tomaram posição de guarda, um para cada lado da rua Oriente. Em casa, todos corriam para a escadaria para abraçar meu pai que retornava vivo e inteiro de uma das guerras mais cruéis da história. Tinha três anos, era muito pequeno para acompanhar aquela multidão. Fiquei paralisado no alto da escadaria e até hoje minhas irmãs dizem que eu chorava copiosamente, pedindo que me ajudassem a descer. Percebia que era uma situação de felicidade, mesmo se não entendia o significado da flâmula exposta na porta de entrada da casa da pensão e sem saber ao certo de onde meu pai estava voltando. Depois de algum tempo entendi que ele havia combatido com a FEB na Itália, durante dois anos liderando o 1º Esq. Rec. Mec., denominado Esquadrão “Tenente Amaro”, a única unidade brasileira da arma de Cavalaria, nos contrafortes dos Apeninos.
Mas na realidade, meu Velho não tinha se afastado completamente da sua família e nem de mim, pois em cima do camiseiro do nosso quarto havia um porta-retratos de dupla face. Numa delas, nosso pai estava feliz e sorridente; na outra face, ele estava zangado. A segunda servia para limitar as nossas travessuras, minhas e do meu irmão Flavinho. Nos tínhamos medo! Foi ideia dele e funcionou enquanto ele estava longe.Uma das histórias curiosas que ele me contou sobre a guerra, foi de uma brincadeira que ele e seus companheiros de guerra fizeram antes de embarcar para a guerra. Todos os oficiais do esquadrão visitaram uma cartomante. Ao meu pai ela previra duas datas perigosas, segundo ele ela tinha acertado, pois na primeira data durante um bombardeio de artilharia inimiga, explodiu um petardo ao lado da trincheira onde ele estava e na segunda uma granada cortou a árvore na altura do pescoço, onde ele e seus companheiros se repousavam à sombra.
O flanco em Monte Castello, seu esquadrão permaneceu durante o rigoroso inverno de 1944/45, Ficaram ali por trinta e oito dias, período em que ocorreram as duas primeiras tentativas de assalto ao morro antes do Natal de 1944. O frio alpino cobrou um preço ao meu pai com uma chaga enorme na canela esquerda, alcançado o tornozelo e o pé. Certamente, também, afetou-lhe a função cardíaca, muito depois encontrada sempre com irregularidades. Em 25 de novembro de 1970, meu pai faleceu e com ele se apagou uma fonte inesgotável de caráter, de fidalguia, de hombridade, de respeito e de consideração, sempre acompanhados de indispensável firmeza e clara definição dos princípios
de seus objetivos colimados.”

 Matéria de Gustavo Adolfo Franco Ferreira filho de
 Flávio Franco Ferreira.
 O Aliado Esquecido

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