O filme "A Montanha" mostra as agruras vividas pelos soldados brasileiros na Segunda Guerra Mundial e a integração racial do pelotão
Ivan ClaudioFRIO E QUEDA
O ator Francisco Gaspar como Piauí: as botas nacionais não eram feitas para andar na neve
Nas encostas dos Apeninos, na Itália, o inverno costuma ser rigoroso,  com madrugadas cravando temperaturas inferiores a 15 graus negativos.  Eis o que diz o ex-pracinha Antonio Amarú, um dos 25 mil soldados  brasileiros que lutaram na Campanha da Itália durante a Segunda Guerra  Mundial e, portanto, pernoitou bastante no local:  “Usava seis blusas de  lã por baixo do field jacket americano, um par de luvas de lã e por  cima um par de luvas impermeáveis, ou perderia a mobilidade nos dedos.”   Seu depoimento poderia  ter sido dito pelos atores que passaram sete  semanas nas mesmas condições ao filmar o longa-metragem “A Montanha”, o  primeiro filme de ficção a tratar da participação da Força  Expedicionária Brasileira no conflito, cujas gravações se encerraram na  semana passada. Dirigido por Vicente Ferraz, a produção procura ser fiel  a histórias de jovens como Amarú, na época com 25 anos. Eles  experimentaram o pior inverno do século na região. Da Itália, por  telefone, o ator Daniel Oliveira, que se protegeu nas filmagens com duas  malhas e duas meias térmicas, teve a exata sensação das agruras  enfrentadas pelos soldados brasileiros: “No set a gente usou botas  antigas e a ardência provocada pela neve foi imediata. Dá para imaginar a  dificuldade deles.”
“Me interessei pelo lado humano do conflito ao
ler os diários e os relatos feitos pelos pracinhas”
Vicente Ferraz, diretor
Oliveira interpreta Guima, um soldado especializado em desarmar  minas. No filme, ele faz companhia aos soldados Tenente (Julio Andrade),  Piauí (Francisco Gaspar) e Laurindo (Thogun).  Vítimas de um ataque de  pânico, os quatro se encontravam perdidos e passam a ser considerados  desertores. Nessa situação, travam contato – e têm uma relação de quase  amizade – com dois outros fugitivos do campo de batalha: o italiano  Roberto (Sergio Rubini), da Resistência, e o alemão Jurgen Mayer  (Richard Sammel). Segundo Ferraz, esse encontro não está nos livros e  nasceu, obviamente, de sua imaginação. “Não tenho a pretensão de  reescrever a história”, diz o diretor. O enredo, contudo, é plausível.  Depoimentos de pracinhas registram o contato com desertores nazistas e a  convivência amistosa com prisioneiros da artilharia germânica. Em “A  Montanha”, quem se depara com o alemão Mayer é o soldado Piauí, vivido  por Gaspar. Ele se solidariza com o nazista ferido nos pés e o carrega  numa bandiola pela neve. “Imagina só, eu com 1,65 metro de altura e 58  kg puxando um alemão de 1,90 metro. Eram cenas muito difíceis, tínhamos  que andar com gelo até o joelho.”
COMPANHEIRISMO
Abaixo, os atores Daniel Oliveira (Guima) e Thogun (Laurindo):
convivência entre brancos e negros surpreendeu os americanos
Como pisava pela primeira vez na neve, Gaspar conta que escorregava  bastante nas superfícies mais lisas. “As botas usadas pelos pracinhas  não eram feitas para andar lá. Nos primeiros dias, levei muitos tombos”,  diz. Não só a bota como também o uniforme. Segundo Gaspar, o filme é  bem fiel nesse aspecto ao colocar cada ator usando uma farda diferente,  todas do Exército americano. O figurino é original e foi alugado de  colecionadores. Embora o elenco tenha recebido treinamento de exercício  de montanha e técnicas de desmontagem de minas no Batalhão de Engenharia  de Pindamonhangaba, a trama foge dos clichês do gênero e não mostra  tantos tiros e explosões. “Me interessei mais pelo dia a dia e me  afastei do lado perverso da guerra”, afirma Ferraz, que entre os 20  livros consultados incluiu diversos relatos de ex-pracinhas. Para se  livrar da servidão à realidade, preferiu nem filmar em Monte Castello e  evitar, assim, qualquer referência ao local onde se deram os maiores  conflitos entre brasileiros e alemães. “Na preparação, contudo, passamos  pela região. Foi para dar um axezinho”, diz Oliveira. Ao visitar uma  das pequenas cidades libertadas pelos pracinhas, a equipe encontrou um  velhinho que era criança naquela época. Olhando para Thogun, ele se  lembrou que foi na guerra que viu um negro pela primeira vez. Livros  recentes, como “Barbudos, Sujos e Fatigados”, de César Campiani  Maximiniano, consultor do filme, mostram que a integração racial do  Exército brasileiro chamou a atenção também dos americanos, ainda  bastante racistas durante a guerra. Esse é outro detalhe que o filme não  se esqueceu de ressaltar.
| Matéria: Isto é. | 
 
An interesting post that I enjoyed reading.
ResponderExcluirThank you. Love love, Andrew. Bye.
Thank you. , Henrique. Bye.
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