sábado, 28 de novembro de 2015

O pracinha,uma fotografia, dois riomafrenses e muita história

Victório Scardazan.
12 de abril de 1945, na Itália, em plena 2ª Guerra Mundial, os repórteres de guerra entrevistam o mais conhecido soldado brasileiro daquele conflito, responsável pelo comando de um seleto grupo de militares (ao qual eram atribuídas missões de alto risco), aquele homem, Rionegrense de nascimento, com o característico semblante tranquilo, com as mãos postas à cintura, na frente de seus comandados, armados e dispostos em forma de cunha, pousou para a foto que se tornaria uma das imagens mais conhecidas da participação brasileira na 2ª Grande Guerra, ali estava o Sargento Max Wolff Filho e sua patrulha.
Horas depois, aquele homem conhecido por sua coragem, tombaria sob o fogo das armas alemãs, durante o cumprimento de mais uma arriscada missão. Morte que viria a afirmar o título de herói que recebia da imprensa de guerra já em vida, imortalizando o título, imortalizando o nome e imortalizando também a imagem registrada naquela foto.
Uma fotografia que os olhos riomafrenses apresenta outro rosto familiar, além da figura de Max Wolff, cuja configuração da própria fotografia tende a dirigir a atenção principal de quem observa, há a presença de outro conterrâneo nosso; ali, de arma em punho, o terceiro da direita para a esquerda a partir do Sargento, está Victório Scardazan.
Victório foi um expedicionário riomafrense que, além de integrar uma das imagens mais conhecidas do Brasil na Grande Guerra, possui uma história que pode ser considerada uma síntese das experiências vividas pelos soldados brasileiros (integrantes da Força Expedicionária Brasileira-FEB) naqueles conturbados tempos, a rotina do dia-a-dia, os anseios, as expectativas e os temores que cercavam e povoaram a mente dos nossos Pracinhas.
Às vésperas da declaração de guerra do Brasil à Alemanha, Itália e Japão, que seria motivada pelo afundamento de diversos navios mercantes brasileiros, Victório foi sorteado para prestar o serviço militar, era início do ano de 1942.
Apto nos exames de saúde, foi incorporado ao Exército e posteriormente incluído no lento processo de mobilização nacional de guerra, seguindo de trem à Curitiba e daí à cidade mineira de São João Del Rei, para o 11° Regimento de Infantaria – 11º RI, organização militar que da qual fariam parte também os riomafrenses Max Wolff Filho e Ary Rauen.
  2º Tenente Ary Rauen, Comandante de pelotão do 1º Batalhão
Em Minas Gerais, a partir daquele mesmo ano de 1942, além dos treinamentos militares, característicos da vida militar, iniciava-se a própria preparação para a guerra, tudo sob um clima interno e sentimento pessoal que mesclava as saudades de casa, da família, da namorada, à dúvida do que estava por vir, se apenas o cumprimento do serviço militar obrigatório ou a permanência e possível participação no conflito e, mesmo o difícil convívio com os companheiros de quartel, pois até que amizades fossem ali conquistadas, era comum, no início, o olhar desconfiado de muitos, sobre aqueles que fossem descendentes de imigrantes, principalmente dos imigrantes vindos de países aos quais o Brasil tinha declarado guerra.
E, foi aguardando o momento da baixa, o desligamento do Exército por ocasião do cumprimento do serviço militar, que o tempo foi passando, a mobilização nacional acontecendo, os treinamentos continuando até a ordem de organização (em agosto de 1943) e formação da Força Expedicionária Brasileira. Tropa brasileira que chegou a possuir um efetivo superior a 25.000 pessoas e que para muitos, inclusive a mídia da época, pela própria demora na sua organização, dificilmente iria combater naquele conflito, chegando-se a ironizar a situação na expressão que se tornaria célebre, de que “seria mais fácil uma cobra fumar do que a FEB ir para a guerra”.
Nessa idéia, para Victorio Scardazan, em setembro de 1944, no porto do Rio de Janeiro, após estar embarcado a dois dias em um gigantesco navio de transporte de tropas, “a cobra fumou”, o 11° RI partiu rumo à guerra na Itália.
E foi em território italiano que nosso conterrâneo teve, de certa forma gradual, contato com o fantástico e triste espetáculo proporcionado pela guerra: da visão do “cemitério” de navios afundados nas águas do porto de Nápoles; às ruínas que compunham o cenário de destruição das cidades italianas; do desconfortável transporte até Livorno, realizado em barcaças que haviam participado do desembarque Aliado na Normandia (França); do contato direto com a sofrida população italiana, cercada pela guerra, pela violência e pela fome; ao crescente sentimento da proximidade dos combates, do receio, dos temores e todas as outras tão marcantes sensações despertadas no ser humano pela aproximação da frente de batalha, lugar para onde, ao som do rugir dos canhões, se sabia, estava-se indo.
 O terceiro da direita para a esquerda a partir do Sargento Max Wolff está Victório Scardazan.
De Iola, a Guanela, a Bombiana ao Monte Castelo, da sensação de distância da guerra, quando aqui do Brasil; à destruição dessa mesma guerra ao alcance dos olhos; do barulho das explosões captadas pelos ouvidos ao calor do envolvimento nas batalhas; dos tiros, aos amigos, aos companheiros, aos mortos, aos mutilados, ao frio da neve; à eternização na fotografia da Patrulha do famoso, do herói e conterrâneo Sargento Wolff; ao retorno ao Brasil, à sua família e a sua terra; Victório viveu as alegrias, ao medos, as tristezas, as dores do soldado brasileiro, vivenciou um pouco daquilo que hoje temos por algumas das principais características da participação brasileira na 2ª Guerra Mundial.
E, se a participação em um grande conflito, onde se convive diariamente com as incertezas, com o contínuo risco de morte, com a luta contra o inimigo e contra as próprios sentimentos, já seria por si, algo impressionante, é sempre interessante e importante saber, que um homem comum, simples, que viveu aqui em Riomafra junto de nós, como é o caso de Victório Scardazan, mais do que simplesmente combater, o fazia em nome da “liberdade”, conforme, ele mesmo, de forma particular e despretensiosa, deixou descrito em suas anotações pessoais.


Fonte: Fábio Reimão de Mello (Professor e historiador) 
blog:Guia Riomafra

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Enfermeiras heróinas da F.E.B

A Força Expedicionária Brasileira (FEB), chega com mais de 25.000 combatentes para lutar na Segunda Guerra Mundial junto dos aliados.Os soldados feridos precisavam de tratamentos imediatos para que suas vidas fossem salvas.Para isso, foram enviadas 73 enfermeiras que se voluntariaram a servir na guerra e que formaram o Quadro das Enfermeiras da FEB.
"Vivendo faz-se a história.E essas brasileiras gravaram para sempre com sua vida nos campos de guerra da Itália, belas paginas na história militar do nosso Brasil" Altamira Perreira Valadares (Enfermeira da FEB).

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 Foto de Jandira Faria de Almeida do lado de um soldado que parece ser brasileiro, ela ficou no 7 th Station Hospital em Livorno - EVACUADAS – Via USA ou Brasil.
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Fotos de três enfermeiras febianas na Itália em Pistoia.
 A primeira da esquerda a tenente enfermeira Ondina Miranda de Souza-16th Evacuation Hospital em Pistoia
Ondina Miranda de Souza nasceu no dia 23 de novembro de 1911 na cidade de Niterói, filha de Luiz Lopes de Souza e Adélia Miranda de Souza.Matriculou-se aos 19 anos de idade na Escola Profissional de Enfermeiras Alfredo Pinto em 3 de março de 1931,após aprovação no exame de admissão,ingressando então na seção feminina da Instituição. Em 1932 quando iria cursar o segundo ano pede afastamento da Instituição retorna aos estudos aos 23 anos de idade no ano de 1935, quando pede transferência para a seção “mixta. Em 30 de dezembro de 1935 recebe o diploma de Enfermeira profissional. Em 1944, ingressou na primeira turma do Curso de Emergência de Enfermeiras da Reserva do Exército e formando-se em 25 de março de 1944 sendo convocada oficialmente para o front militar em 22 de abril do mesmo ano. Em 29 de outubro de 1944 embarca com destino à Itália,participando na segunda guerra , após  cruzar o oceano atlântico, apresentou-se pronta para o serviço em 17 de novembro de 1944.
No dia da exclusão do efetivo da Força Expedicionária Brasileira, o Major Chefe da S.B.H, Ary Duarte Nunes, expressou o seguinte elogio em boletim: “Enfermeira ONDINA MIRANDA DE SOUZA,  trabalhou com muita dedicação e carinho em exaustivos plantões noturnos, demonstrando sempre dedicação e desvelo para com seus pacientes. Voluntária, impôs-se pelos conhecimentos adquiridos e magníficos serviços, demonstrando sempre espírito de sacrifício e boa vontade. Representou dignamente a mulher brasileira neste teatro de operações. Louvo-a e agradeço todos os serviços prestados não só a esta secção como ao Brasil”.
A força de vontade desta enfermeira, apesar de ter baixado em duas oportunidades, Ondina fez questão de retornar ao serviço. Em solo brasileiro o Exército Brasileiro reconheceu e condecorou a carioca filha de Luiz Lopes de Souza e Adélia Miranda de Souza, com a Medalha de Guerra e a Medalha de Campanha.
A enfermeira do centro  e a 2º tenente Silvia de Souza Barros-6th Evacuation Hospital em Pistoia.
Natural do Estado do Rio de Janeiro, a filha de Sebastião Duartte e Eunice de Souza Barros, diplomou-se na 1ª Turma do Curso de Emergência de Enfermeiras da Reserva do Exército (CEERE) e partiu para o Teatro de Operações de Guerra Europeu no dia 06 de agosto de 1944.
Até receber a ordem de embarque no Navio James Parker para retornar ao Brasil, no dia 03 de outubro de 1945, Silvia serviu exemplarmente na Clínica Médica, Cirurgia e Salas de Operações dos seguintes Hospitais de Sangue Norte-Americanos: 105th Evacuation Hospital, em Cevitavecchia; 38th Evacuation, em Marzabotto e Parola; 16th Evacuation Hospital, em Pistóia; 15th Evacuation Hospital, em Corvella; 45th General Hospital, em Nápoles; 32nd Station Hospital, em Caserta e ainda, no 35th Field Hospital, em Sparanise (Nápoles).
O Capitão Médico, Dr Edson Hypólito da Silva, descreveu, em boletim, o seguinte elogio:
“2º Tenente Enfermeira, Silvia Souza Barros – foi notável a dedicação e carinho e a incansável operosidade que dedicou aos nossos soldados e enfermo. Sempre prestimosa e satisfeita atendeu a qualquer momento daqueles que de sua nobre profissão necessitavam, conquistando assim não só desta Chefia, como de todos aqueles que neste 35th Fiel Hospital trabalharam brasileiros ou americanos, as mais vivas simpatias. A esta patrícia, meus mais efusivos louvores e agradecimentos pela colaboração que me prestou”.
Pelos excelentes serviços prestados, a enfermeira febiana recebeu do Exército Brasileiro a condecoração de Medalha de Campanha e Medalha de Guerra.Seu licenciamento do Serviço Ativo do Exército em 22 de dezembro de 1945.
A enfermeira da direita Virginia Maria de Niemeyer Portocarrero-16th Evacuation Hospital em Pistoia.
Filha do autor do Hino da Enfermeira do Exército, General Tito Portocarrero e Dinah de Niemeyer Portocarrero, Virgínia Maria de Niemeyer Portocarrero, é carioca nascida na capital do Rio de Janeiro – RJ, ntigo Distrito Federal. A enfermeira veterana formou-se no Curso de Enfermagem Samaritana e se qualificou no Curso de Emergência de Enfermeiras da Reserva do Exército (CEERE). 
No dia 02 de Junho de 1944, Virgínia passou a disposição do 1º Escalão da Força Expedicionária Brasileira, seguindo para Nápoles – Itália, no dia 07 de Julho de 1944, via aérea, como uma das integrantes do 2º Grupo.
Cumpriu missões, nas Enfermarias de Cirurgia e Sala de Operações, nos seguintes Hospitais de Sangue Norte-Americanos do front Italiano: 182th Station General Hospital, em Nápoles; 105th Station Hospital, em Cevitavecchia; 64th General Hospital, em Ardenza; 38th Evacuation Hospital, em Cecina (Santa Lucce), Florença e Pisa; no 24th General Hospital, em Marzabotto e Parola; 16th Evacuation Hospital, em Pistóia concluindo sua missão no 15th Evacuation Hospital, em Corvela. Em todas as unidades hospitalares foi classificada ora nas enfermarias de Cirurgia, ora nas Salas Operações.
No dia 02 de novembro de 1944, recebeu o seguinte elogio em boletim interno número 35, do Major Médico Dr Ernestino Gomes de Oliveira:
"É como exemplo digno de ser seguido como padrão para todos os que se sacrificaram pela causa da liberdade e serviço do Brasil, tenho muita satisfação de elogiar e louvar a enfermeira Virgínia Maria de Niemeyer Portocarrero, destacou-se pela capacidade de trabalho, dedicação e carinho com que atende aos seus pacientes durante a madrugada de calamidade, bem assim no dia consecutivo, tendo sempre uma palavra de conforto para os doentes mais graves, encarnando bem o papel de enfermeira brasileira, a sua ação foi de grande eficiência, não só profissional como na parte administrativa, recolhendo logo no inicio da catástrofe, juntamente com outra colega, toda documentação e medicação necessárias aos pacientes, tornando-se assim fácil a missão de seu chefe".
Regressou da Itália, no dia 07 de julho de 1945, sendo condecorada pela Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira com a Medalha Marechal Mascarenhas de Moraes e, pelo Exército Brasileiro, com a Medalha de Guerra e Medalha de Campanha. Virgínia foi licenciada dia 23 de junho de 1945.
Referencias biográficas:
"A serviço da pátria: a mobilização das enfermeiras no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial". 
"Álbum Biográfico das Febianas". Pesquisa da II Grande Guerra Mundial, (Batatais- São Paulo). Rio de Janeiro: Mauro Familiar, 1976.
O Resgate FEB.

domingo, 15 de novembro de 2015

IRMÃOS DE ARMAS

Uma foto de recordação de Jorge Nalvo ao irmão de armas Alberto Mendes Maciel de Minas Gerais onde combateram na Segunda Guerra pelo 11º Regimento de Infantaria de São João del Rei.Jorge Nalvo mas em vez de ser engajado na tropa paulista do 6º RI, acabou indo parar na tropa mineira do"onze".

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sábado, 14 de novembro de 2015

Veterano da F.E.B José Edgar Eckert

Um painel com as medalhas, diplomas e distintivos do veterano José Edgar Eckert.
Nasceu no dia 11 de maio de 1920, em Selbach, RS.Filho de José Marcolino Eckert e Eugênia de Migheli Eckert.
No dia 22 de setembro de 1944, embarcava para a Europa o expedicionário José Edgar Eckert, integrando a Força Expedicionária Brasileira (FEB) sob o comando do então General Mascarenhas de Morais.
Na Itália lutou na Segunda Guerra Mundial, tendo lutado e participado das principais batalhas, culminando com a histórica Batalha de Monte Castelo no dia 21 de fevereiro de 1945.
Em 1946 deixou o Exército, recebendo as seguintes condecorações:
- Medalha Cruz de Combate 2º classe - 1961
- Medalha de Campanha - 1946
- Medalha de Guerra - 1947
- Medalha Marechal Mascarenhas de Morais.

- Diploma de Membro de Honra do 5º exercito americano - 1998.
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domingo, 8 de novembro de 2015

Pagamento no acampamento

O salário de um soldado engajado era de 296,00 cruzeiros, equivalente a quase mil e quinhentas liras italianas (ou liras de ocupação).O soldado convocado recebia pouco mais de 80 cruzeiros. Segundo Aribides Pereira, que era engajado, recebia 200 liras, na Itália; outra cota era paga à família, em cruzeiros, e o restante era creditado em uma conta bancária, no Brasil.
Muitos pracinhas conseguiam multiplicar esse valor, pois, além da comida enlatada, recebiam chocolates e cigarros. Muitos não fumantes vendiam os cigarros para os soldados norte-americanos, aumentando a renda. Cada pracinha recebia um maço por dia. Pode parecer exagero, mas o maço de cigarros norte-americanos, dependendo da situação, podia ser vendido por até mil liras para os soldados estadunidenses. Havia também os cigarros nacionais, que eram mais fortes e mais baratos. Os cigarros não vendidos eram cedidos, graciosamente, aos amigos fumantes ou trocados por algum souvenir, com os prisioneiros alemães. Os chocolates tinham valor incalculável.
Neraltino Santos diz que, além do maço de cigarros diário que recebia e vendia por 100 liras, tinha outra fonte de renda: uma máquina Kodak, que adquiriu na Itália. “Quando descobriram que eu fotografava, vendi muitos retratos por lá. Soldados de outras baterias vinham tirar fotografias”. Recorda que, como soldado, tinha direito de depositar um número ‘x’ de liras em sua conta no Brasil. Como faturava muito mais, depositava o excedente na conta do Sargento D’Ambrósio. Desse modo, conseguiu fazer um belo pé de meia com a venda das fotografias. Esses valores, somados ao salário que recebia, permitiram que comprasse algumas cabeças de gado, após o retorno à terra natal. A título de curiosidade, Neraltino diz que um maço de cigarros correspondia ao preço de uma garrafa de champanhe francês.
Acervo de Wanda R. Pedroso (foto).
PORTAL FEB.