A história de dois pracinhas que quase foram para o pelotão de fuzilamento por homicídio e estupro.
Na atualidade, passados mais de sete não décadas do fim da Segunda Guerra Mundial, a visão que a maioria do povo brasileiro possui da FEB – Força Expedicionária Brasileira, e de sua ação nos campos da Itália é muito positiva
Primeira e até hoje única força de combate latino-americana a lutar em solo europeu, a ação da FEB está registrada em inúmeros livros de memória, documentários e filmes que enaltecem a participação de simples brasileiros, a maioria deles saídos dos campos de um país ainda prioritariamente agrário, para combater no maior conflito da história da humanidade.Aqueles que lá estiveram merecem ter por parte dos familiares, amigos, das autoridades e de todos os brasileiros o amparo, apoio e atenção pelo que fizeram nos campos de combate.
Adão Damasceno Paz e Luíz Bernado de Morais, assassinaram e estupraram envergonhando o uniforme da FEB.
Mas nem todos cumpriram com o seu dever.
SEGUINDO PARA A GUERRA
Em 1942, em meio aos vários afundamentos ocasionados pela ação de submarinos alemães e italianos e a mortes de muitos brasileiros, o sentimento provocado por estas tragédias fez com que o povo apoiasse sem contestação a ida de nossas tropas para lutar contra os nazifascistas.Homens e mulheres de várias partes do país foram convocados e aceitaram o compromisso de envergar o uniforme das nossas forças armadas para ombrear-se com outras nações aliadas pelo fim do conflito.
Muitos jovens, que anteriormente sequer conheciam algo além da vila mais próxima da fazendinha em que viviam com seus familiares, que utilizavam a enxada como instrumento de trabalho e o chapéu de palha para se protegerem do sol, foram deslocados para outras terras, onde existiam outros sotaques e outros pensamentos. Lá vislumbraram novos horizontes, receberam o fuzil para realizar o seu novo ofício e colocaram o capacete de aço na cabeça.
Essa situação, extremamente comum dentro das fileiras da FEB, se repetiu com Adão Damasceno Paz e Luís Bernardo de Morais, ambos agricultores e oriundos respectivamente da regiões rurais das cidades gaúchas de Santiago e São Borja.Eles seguiram para o Rio de Janeiro, então capital do país, onde iniciaram um forte e pesado treinamento, aguardando o momento de embarcarem para além mar. Nos momentos de folga os dois rapazes seguiam a conhecer as belezas e o mundo novo que existia na cidade maravilhosa.
Em 2 de julho de 1944, Adão e Luís estavam dentro de um enorme navio como membros do primeiro escalão da FEB e junto a eles estavam milhares de pracinhas vindos de todas as partes do país.
PROTEÇÃO DO GENERAL MASCARENHAS DE MORAIS
Não sei se os dois agricultores se conheceram ainda no seu estado de origem, apesar das suas cidades serem muito próximas, ou no campo de treinamento no Rio, ou ainda no navio transporte que os levou a Itália. Mas na pátria de Dante Alighieri, aonde chegaram a Nápoles no dia 16 de julho de 1944, consta nas informações apuradas que os dois homens foram designados para uma função na FEB que muitos consideravam de extrema honra e importância. Eles ficaram lotados no Pelotão de Defesa do Quartel General, compondo a guarda pessoal do comandante da 1ª Divisão de Infantaria da Força Expedicionária Brasileira, o general João Batista Mascarenhas de Morais.Segundo a narrativa dos dois ex-militares, que se encontra na edição da “Revista da Semana”, de 16 de julho de 1949, trabalhar na proteção do general Mascarenhas de Morais não era tarefa fácil, pois o comandante estava sempre em deslocamento por toda área de atuação das FEB no norte da Itália.
A reportagem não diz o número exato de mulheres que estavam no local, mas informa que os dois soldados brasileiros entraram na casa a noite, armados de submetralhadoras.
Surpresas, as italianas não tiveram como reagir e durante meia hora os brasileiros praticaram várias sevícias contra elas.
Enquanto um montava numa das vítimas o outro ficava de guarda. Nisso Luís ouviu um barulho, saiu para ver o que ocorria e percebeu o vulto de um homem que se aproximava. Em meio gritaria que se formou, ele apagou as luzes do recinto e metralhou a estranha figura.
Os dois soldados brasileiros fugiram pela praça principal deste lugarejo próximo a cidade de Porreta e correram por mais de meia hora, até terem a certeza que não eram perseguidos.Ao repórter da “Revista da Semana”, Hélio Fernandes, Adão e Luís afirmaram que logo o comentário do ocorrido no lugarejo italiano foi intenso. Em pouco tempo o pessoal do pelotão da Polícia do Exército incorporada a FEB, comandado pelo 1º tenente José Sabino Maciel Monteiro, estavam recebendo informações sobre a situação e os dois militares foram capturados.
A VERSÃO DA JUSTIÇA MILITAR
A reportagem da “Revista da Semana” é muito falha em termos de detalhes, além de extremamente tendenciosa, que pudesse esclarecer mais sobre este assunto. Mas no trabalho de conclusão de curso realizado em 2003, pela historiadora Carolina Mendes Pereira, da Universidade Federal do Paraná, e intitulado “Delitos sexuais cometidos pelos soldados brasileiros em campanha na Itália durante a Segunda Guerra Mundial: do estupro e homicídio ao indulto” (ver http://www.historia.ufpr.br/monografias/2002/carolina_mendes_pereira.pdf) e no próprio Boletim do Exército nº 13, de 31 de março de 1945 (páginas 948 a 953), nos excertos do Parecer n. 8 da Procuradoria Geral (transcritos no blog (http://froilamoliveira.blogspot.com.br/2011/10/condenado-morte.html), encontramos informações bem mais detalhadas sobre o caso.Os dois brasileiros confessaram, segundo o Boletim do Exército, “friamente e com abundância de detalhes” que o fato ocorreu na pequena aldeia medieval de Madognana, distante quase quatro quilômetros da comuna de Granaglione, província da Bolonha, na região italiana da Emilia-Romagna, nordeste daquele país e não muito distante da cidade de Porretta-Termi.
Se é para se contar a história dos pracinhas, que nada seja escondido: inclusive fatos tão desagradáveis como estes.
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