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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Amynthas Pires de Carvalho, Veterano da FEB, Prisioneiro do Campo de Concentração Stalag


Amynthas Pires de Carvalho, Veterano da FEB, Prisioneiro do Campo de Concentração Stalag VII A, Moosburg, Alemanha.
"As operações do Destacamento FEB eram marcadas por constantes encontros de patrulhas. Tomei parte de muitas dessas patrulhas.
Eram raros os momentos de calmaria. Lembro-me bem que em um desses interlúdios, aproveitei para tomar um banho numa das casas de italianos que havíamos ocupado no transcorrer das patrulhas. Eu já todo ensaboado, os alemães iniciaram uma violenta tempestade de tiros de morteiros. Mal consegui me vestir e sair à busca de abrigo. Logo notei que um senhor aparentando uns 70 anos, havia sido atingido no ventre, por um estilhaço de projétil de morteiro. Sangrava profundamente, e ficou recurvado, gemendo de dor. Nesse instante, ouvi vozes das netas do ferido que, aos prantos, gritavam, "nono! Nono!" Parece que foi ato da Divina Providência, os alemães deram uma trégua. Volta e meia, sem que eu a procure ou queira, a cena de reproduz em minha mente, com muita nitidez e em cores vivas: Eu, ensaboado, com um homem ferido nos braços, entregando-o aos cuidados de suas netas.
O dia 22 de outubro de 1944 que deu início a uma das passagens mais marcantes e trágicas de minha vida. Nesse dia, foi-nos dada a missão de fazer uma patrulha de reconhecimento para determinar a posição dos alemães à nossa frente. Alcançamos o vilarejo de Galicano, na região de Barga, na Toscana. Um grupo de mulheres que acabava de sair de uma igreja puseram-se a gesticular e apontar com os polegares voltados para a retaguarda, enquanto diziam: Tedeschi! I Tedeschi! Sono vicini! Molto vicini! Guarda!..."


"A patrulha era comandada pelo Segundo Tenente Manoel Barbosa da Silva, que, além de não dar ouvidos às advertências das mulheres, voltou-se para nós e disse que se algum de nós tentasse correr, ele atiraria para matar. Sem procurar cobertura, avaliar a situação do terreno, colocar a patrulha em posição de combate, ele avançou uns 200 metros e, em pé, pegou o binóculo e vasculhou o terreno, da esquerda para a direita, e da direita para a esquerda. Ele deve ter localizado os alemães, porque pegou a carabina M1A1, geralmente fornecida aos oficiais e como estava, apontou e atirou.
Foi a mesma coisa, como se diz no interior de Minas Gerais, que "futucar caixa de marimbondo caga-fogo com vara curta". Os alemães começaram a disparar fogo cerrado contra nós. O Tenente recebeu um tiro de fuzil no meio da testa e teve morte instantânea. O Sargento e os soldados que estavam ao lado do tenente lançaram-se ao chão e rastejaram, arrastando com eles o tenente morto, e alcançaram uma cocheira, cuja entrada ficava bem em frente dos alemães.
Os alemães lançaram sobre a cocheira uma descarga de tiros de fuzis, metralhadoras, morteiros e granadas incendiárias, ao mesmo tempo que iam se aproximando para invadí-la. A cocheira, que era de madeira virou um inferno de labaredas num piscar de olhos. Nossos homens conseguiram sair mas tiveram que deixar para trás o corpo do tenente.
Nossa artilharia, percebendo as explosões, lançou uma barragem de tiros sobre o local. Na esperança de escapar, pedi a proteção de Deus e saí rastejando. Balas zumbiam em todas as direções, e cascas de árvores caíam sobre mim como um temporal de granizo. Passei umas duas horas procurando uma brecha para escapar. De repente, fui abordado, por trás, por um oficial alemão com uma pistola automática em punho. Apontando a arma para a minha cabeça, perguntou:
-Amerikaner?
-Brasileiro! - respondi. O oficial tomou-me o fuzil Springfield e fez com que eu o acompanhasse.
Segundo a sabedoria dos ditados populares, ninguém morre antes do dia. Quando ele me apanhou de surpresa, por trás, poderia ter-me executado com um tiro na nuca. Eu também poderia ter matado o oficial alemão. Inexplicavelmente, ele me tomou o fuzil, mas não me fez entregar a baioneta que levava na cintura. E em vez de mandar que eu fosse na frente, fez-me acompanhá-lo. Passou-me pela cabeça aproveitar a oportunidade para tentar dar-lhe um golpe de baioneta pelas costas, porém não o fiz pela quase certeza de que havia soldados alemães por perto, observando nossos movimentos.
Ele me conduziu a uma casamata, onde me entregou aos soldados que lá estavam. Senti, naquele momento, na penumbra daquele abrigo subterrâneo blindado, uma espécie de calafrio e minhas pernas bambearam. Veio-me à mente o temor, de longe arraigado, de que havia chegado o momento em que os alemães iriam me submeter às terríveis torturas." 

"Uma das condições mais angustiantes para um prisioneiro de guerra é o fato de jamais saber qual é o seu destino - não sabe para onde vai, não sabe se vai ser transferido, não sabe aonde chegará. Daí, tem que encontrar muita força de vontade, muita resignação, muita paciência e, acima de tudo, precisa Ter muita fé, principalmente quem professa uma religião e crê em Deus. A vida, tal qual a entendemos em situações normais, perde o significado. A morte, quase sempre uma morte lenta, está constantemente à espreita. Além disso, quando o corpo pede cama, as intempéries pedem abrigo, o estômago pede comida e bebida, a dor pede alívio, o algoz maquina uma nova forma de causar sofrimento e penúria."

PRISIONEIROS DO STALAG VII
Museu da FEB BH - ANVFEB BH

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