Finalmente teremos um filme sobre os combatentes brasileiros que  atuaram nos campos da Itália na luta contra o nazifascismo no período de  1944-1945, digno de ser visto.Seu autor Vicente Ferraz, foge um pouco  do viés documentarista,  parte de uma ficção, retratando a tomada de  Monte Castello, que dá titulo ao filme, A Montanha. Tal fato na  época, se constituiu no maior desafio da tropa brasileira.  Logisticamente, o Monte Castello, está situado próximo a Bolonha, cerca  de 60 quilômetros,  um baluarte alemão que compunha a Linha Gótica,  fortemente armada, com mais de 200 mil minas terrestres, além dos fossos  anti tanques, e os fortins guarnecidos por atiradores de elite.
A missão mais importante era tomar esta montanha ,chamada de Fantasma  pelos brasileiros. Por ela passava a Estrada 64, que ligava o norte, ao  sul da Itália, local preponderante para quem necessitava levar reforços  para suas tropas. Por outro lado, os norte americanos, dos quais éramos  aliados, precisavam tomar Bolonha, centro nevrálgico no final da  guerra. Ao passar a responsabilidade aos brasileiros de tomar esta  montanha, a intenção era também dividir as forças nazistas. Da parte  brasileira, foram necessárias 5 tentativas para  a conquista do local,  tudo sendo iniciado em novembro de 1944, com tropa “fresca” e mal  preparada.
Para o pesquisador que se debruça sobre a história dos veteranos  brasileiros nesta guerra, dificilmente deixa de encontrar referencias á  tomada de Monte Castello, seja em documentos oficiais, bem como em  periódicos da época, registrados pelos correspondentes de guerra  brasileiros, nos jornais dos batalhões, nas memórias dos pracinhas  ou  em seus diários, como o material por mim pesquisado e transformado em  livro com o titulo Diários de Guerra, recentemente lançado.
Em relação ao filme de Vicente Ferraz,  embora conduzindo uma  ficção,  o autor narra a história de quatro combatentes, que diante de  uma ataque surpresa do inimigo em Monte Castello, abandonam seu  grupamento, tentam depois retornar às linhas brasileiras, mas caem em um  campo minado e diante do comprometimento do  dever e da honra, temem  pelo  estigma da deserção.
Na narrativa  que encaminha, sem o comprometimento factual,  possivelmente, o autor nos aproxime dos episódios ocorridos do dia 2 de  dezembro de 1944. Desde novembro desse ano, vinha a tropa brasileira  empenhada na conquista da montanha, sem sucesso.Neste dia, seguindo uma  missão de guerra, os soldados do 1º batalhão do 11º. Regimento de São  João Del Rey, substituiria outro do Regimento Sampaio. Eram tropas  extenuadas, pela acirrada ânsia da conquista em local estrategicamente  difícil, sob forte impacto continuo da artilharia alemã. Os recém  chegados foram influenciados por noticias desalentadoras que minavam o  moral dos soldados, estes, jovens recrutas sem o amadurecimento  psicológico para tal enfrentamento.
Diante de fogo pesado da artilharia , os soldados debandam,  na  corrida desenfreada, deixam  para trás armamento, equipamentos e  munição, perdem os companheiros, e chegam na cidadezinha de Porreta  Therme, local do quartel general  brasileiro. Desorientados, com os  olhos esbugalhados e sujos de lama, foram vistos com incredulidade e  desdém pelos habitantes. Lamentavelmente foram considerados covardes,  mas sem julgamento, e nenhum apoio receberam do comandante da infantaria  general Zenóbio da Costa. Ainda hoje tal assunto é considerado tabu  entre os soldados.
Sobre o filme, trata-se de um grande projeto totalmente  filmado na  Itália, desde 2007. Partem agora seus idealizadores para as ultimas  tomadas feitas  nos locais ,nos montes nevados onde os fatos  aconteceram. Atuam neste filme cerca de 25 atores dentro de um consórcio  brasileiro, português  e italiano, a previsão é de  RS 9 milhões nesta  produção do longa metragem. Cenas de minas que explodem, em um tempo  quase real, foram alguns desafios enfrentados pelos protagonistas, após  intenso treinamento com equipes especializadas do Exército Brasileiro.  Entre os atores, alguns conhecidos como Richard Sammel de Bastardos Inglórios e Sergio Rubini .
Vimos um trecho do filme no teaser, chamou a nossa atenção pela  beleza das imagens, em um cenário pouco conhecido dos brasileiros.  Acreditamos que o filme seja um marco e motivação para o conhecimento de  fatos ligados  à participação  brasileira na 2ª Guerra Mundial,  retratando a saga de 25 mil brasileiros nos momentos vibrantes desta  história tão pouco valorizada em nosso meio.
Carmen Lúcia Rigoni
Historiadora.
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