Abril, oito horas da noite
Os pracinhas aguardam o momento da partida. A missão é perigosa. Seu comandante é o Tenente Raymundo Cavalcanti (Rio de janeiro-Rua Barão do Bananal,166) , que recebe as últimas instruções. O Sargento Waldir dos Santos (Estado do Rio) acende um cigarro, o último da noite, e conversa com o Soldado Camilo de Oliveira (Itajaí-Santa Catarina) sobre a carta que recebeu à tarde. Às nove horas a patrulha se dirige à terra de ninguém o único homem desarmado, o enfermeiro. Ele leva apenas a mala de curativos de emergência. Depois de ter desaparecido de vista do PC, inicia-se o contato pelo rádio. Uma imprudência e tudo estará perdido. Como astutas raposas os patrulheiros vão se aprofundando em terreno inimigo.
À uma hora da madrugada, a pouca distância de Rocca Corneta, adiante de Cappel Buso e Pizzo di Campiano e Roncore, a coluna foi surpreendida pelo fogo dos nazistas. De uma elevação, os alemães, favorecidos pelo luar, avistaram os pracinhas e comunicaram a todas as casamatas e ninhos de metralhadoras a posição exata. Uma carga de morteiros, granadas de bazucas e fogo de metralhadora foi despejada sobre os brasileiros. O Tenente Cavalcanti ordena que todos se abriguem e respondam ao fogo. Tres pracinhas caem feridos . O enfermeiro José Agostinho ( S. João del Rei, Rua General Osório, 165-Minas Gerais) abre sua caixa de emergência e aplica os primeiros curativos. Todos por estilhaços.
O total de feridos chega a seis. O Sargento Américo Araujo (Salvador-Rua Visconde de Quiçamã), comandante de unidade da patrulha, teve dois de seus homens atingidos quando espreitava os alemães. Assim mesmo conseguiu trazer os feridos até chegar a salvo. Missão cumprida. Os demais feridos foram levados até Rocca Corneta. O Sargento Adir Rodrigues Costa (São Sebastião-Rua Capitão-Mor, Estado do Rio) trouxe dois dos seus colegas feridos para a retaguarda. As três da manhã a patrulha estava de volta e o Comando obtinha informações de grande valor sobre os efetivos nazistas na área. Rocca Corneta foi um dos pontos marcantes na frente sob a responsabilidade da FEB. Sobre um monte, a construção simples era provida de um cone interior que soava quando o vento dos Apeninos batia forte.”
Do livro:
A LUTA DOS PRACINHAS
A Força Expedicionária Brasileira – FEB na II Guerra Mundial.
De JOEL SILVEIRA e THASSILO MITKE
Um Tipo Inesquecível
Esse bravo Tenente do 1º RI que esteve à frente de seu pelotão na conquista de Monte Castelo e que foi condecorado pelo General Lucian Truscott, conforme vemos nas fotos acima, é o nosso escolhido para representar o “inesquecível herói” de minha infância, juntamente com minha mãe, Enfermeira da FEB.
O Major Cavalcanti era tão especial que sua lembrança imediatamente traz a suavidade peculiar na maneira de falar, de comedidas expressões faciais, caracterizando sua elegância natural, sendo de baixa estatura e inúmeras historias contadas de suas bravuras.
Falar de alguém importante que não se encontra mais em nosso meio, que tem filhos : versados nas escritas, nas formas arquitetônicas, na cultura ambiental, na fisiologia humana, etc.. tudo isso vai dando uma responsabilidade no cuidado e fidelidade dos fatos. Não sendo profissional na área da escrita resta-me deixar o coração “falar”.
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Foto do pelotão ,a frente o Tenente Cavalcante |
O que dizer de alguém recém nascido que “amorosamente” foi deixado à porta do Convento dos frades Capuchinhos em Belém do Pará. Foi entregue aos cuidados de um casal paroquiano, Lídia Antonio de Araujo Cavalcante ( negra e lavadeira) e Claudino de Holanda Cavalcante, afim de receber educação e amor da sua nova família. Sua instrução foi acompanhada de perto pelos religiosos, vindo assim dessa parceria, o fino trato e sabedoria que esse nosso personagem dispensava a todos que o rodeavam.
Foi praça de 1927, esteve na Revolução de 1930 como Cabo do Exercito Brasileiro.
Á partir dai foi transferido para o Rio de Janeiro onde participou da Revolução Legalista em 1932 e da Intentona Comunista em 1935, movimento rapidamente combatido pelas Forças da Segurança Nacional.
Seu espírito combativo adaptou-se à disciplina. Serviu no Ministério da Guerra no gabinete do General Gustavo Cordeiro de Farias, de onde, após a declaração de Guerra foi transferido como 2º Tenente para o Regimento Sampaio, embarcando assim para a Itália.
Quando partiu de Belém para seguir seus ideais havia deixado sua primeira namorada de coração “partido”, restando à mesma acompanhar as notícias do seu destemido guerreiro. Ao final da 2ª Guerra foi surpreendida pela triste notícia de que seu amado havia morrido. Em meio à sua dor mandou celebrar uma missa em sua memória.
Tempos depois, uma amiga em comum traz a boa noticia de que ele estava vivo, com uma filha e um casamento desfeito no Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo nosso herói fica sabendo do carinho ainda dispensado por seu “primeiro amor”. Retorna à sua cidade natal e desposa em segundas nupcias, Raimunda Marçal, com quem teve mais quatro filhos ( dois homens e duas mulheres) vivendo em grande harmonia pelo resto de sua vida.
O Major Raymundo Cavalcanti fundou a Associação dos Ex-Combatentes do Brasil, seção Pará, onde a presidiu por vários anos, desenvolvendo e prestigiando os associados com inúmeras atividades recreativas e culturais em sua gestão.
Juntamente com sua esposa fundou e dirigiu a Escola Marechal Mascarenhas de Moraes, do Jardim ao 5º ano, que funcionava no prédio da Associação, privilegiando tanto os filhos dos pracinhas como a comunidade paraense, com um ensino de qualidade. Posso atestar por haver estudado na mesma juntamente com meus irmãos.
Faleceu em 22 de novembro de 1990, deixando enorme saudade aos familiares e amigos. Não nasceu em berço de ouro e seu maior legado foi o exemplo de honradez e amor à Pátria Amada Brasil!
Nossas famílias permanecem unidas pois assim podemos honrar nossos antepassados com os mesmos ideais de liberdade e amor, o tributo que herdamos.
E assim segue a COBRA FUMANDO !
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